junho 01, 2006

L.U.S.T. (7)

Anteriormente em L.U.S.T.:
Depois de sair da universidade, Davi encontra Katerine no orkut. Quando isso acontece, Rodolfo o encontra também. Como este é totalmente sem noção, decide ir morar com Davi. Diante dessa proposta, infelizmente, irrecusável, nosso pobre diabo o abriga. Houve também uma tenta tiva miserável, da parte de Davi, de ficar com Katerine.

Pessoal, essa semana não foi muito produtiva, em termos criacionais. Estou em época de provas. Por isso só deu pra postar um capítulo.



L.U.S.T.

Nicolas Dias


Capítulo 7

Infelizmente, eu não cago dinheiro. Se cagasse, estaria agora mesmo limpando a bunda pra sair pra lanchar ou algo assim. Mas estou aqui trabalhando nesse emprego de merda.

Se bem que trabalhar numa panificadora não é tão ruim. Pelo menos aqui, diferente de nos supermercados, eles não te exploram, fazendo você trabalhar de domingo a domingo, o dia todo, por apenas um salário mínimo. Eu não poderia trabalhar num supermercado por causa do meu problema de coluna. Maldita cifose.

Cifose é quando sua coluna tem um desvio anormal para os lados. No meu caso, a minha coluna tem um desvio para a direita, na região toráxica. Quando eu era menor, jogando videogame, sempre que fazia o personagem (bonequinho, como tem gente que insiste em chamar) pular, eu acompanhava o movimento dele com os ombros. Talvez isso não tenha nada a ver com o problema, mas eu sempre lembro disso.

Depois que minha mãe parou de me mandar dinheiro e morreu, não sei se foi bem essa a ordem dos fatos, eu tive que começar a trabalhar.

Quem me arrumou esse emprego foi o Rodolfo. Ele trabalha nesse mesmo lugar, só que de noite. Não, aqui não, depois das dez, não se transforma em uma casa de strip gay noturna – apesar de achar que Rodolfo, com sua aparência de prostituto diurno, levaria jeito nesse ramo. Ele trabalha como vigia.

Ele trabalha de noite e eu de dia. (rimou!)

Rodolfo está trabalhando por que também largou o curso na Unama. Na verdade não foi ele quem largou. Quando ele foi reprovado, o pai dele ficou mordido e não quis mais pagar o curso, que é ligeiramente caro.

Ele voltou a morar com o pai, depois de viver com a avó, quando já era adolescente. Ele não se dava bem com o pai. O velho era um dentista conhecido. Era um cara tradicional quanto à educação, diferente da avó, que criou Rodolfo com liberdade.

O pai dele não aceitaria ficar pagando pra ele ficar vadiando.

Segundo ele, o pai o expulsou de casa por causa disso. Mas não sei não. Como o pai era tradicional, talvez ele tenha, em certos momentos, da sexualidade do garoto, devido as roupas coloridas e o jeito dele. Se eu tivesse ele como filho, e ele ainda fosse viado, já teria dois motivos pra expulsá-lo.

Meu trabalho aqui é botar a massa na fôrma, botar a fôrma no forno e, às vezes, eu atendo as pessoas. É como acontece no orkut. Quando estou cuidando do pão, é como se eu estivesse na frente do computador, fico à vontade, poderia até ficar de cueca. Mas mas quando estou atendendo as pessoas, é como quando eu fui falar pessoalmente com a Katerine, Não sou eu mesmo, não sou ou outra pessoa, não sou ninguém. Creio que as pessoas, quando me vêem aqui, acham que não sou ninguém. Geralmente as pessoas atrás do balcão são associadas a peões, e as pessoas na frente do balcão se associam a reis ou rainhas.

No meu primeiro dia de trabalho, um cara me diz o que tenho que fazer. É o Fábio.

- Depois que a massa é feita, ela tem que descansar um pouco – ele diz. – depois disso, você tem que fazer os cortes e a modelagem, por na estufa, pra massa crescer, aí põe no forno. Quando tiver pronto, se for careca, ta pronto pra sair, se não, tem que esperar esfriar. Alguma dúvida?

Até um macaco cego, com um tumor maligno no cérebro e sem braços faria isso.

- Não.

Depois de falar a teoria ele passa pra prática.

Aqui a prática deve ser mais fácil, diferente de quando você vai falar com a mulher dos seus sonhos com a qual, efetivamente, nunca conversou. Só pelo orkut.

Falando nisso, no orkut, já me mandaram um monte de vírus. Pessoas que você conhece te mandam um scrap dizendo, “ei, o seu nome, olha essas fotos da nossa festa!”, e mandam um link, onde você só entra pra pegar um vírus.

Isso acontece por que existe uma falha na segurança do orkut e no Windows Internet Explorer, que permite que certas pessoas descubram senhas com certa facilidade. Assim elas podem entrar no orkut pela conta dos outros e fazer qual quer coisa. Bisbilhotar os outros, assumir uma suposta homossexualidade, cancelar contas e mandar vírus para seus “amigos”. É isso ou os idiotas salvam suas senhas quando acessam a internet de lan-houses. Só informação adicional.

Rodolfo queria que o dono daqui colocasse umas câmeras de vídeo para a segurança, mas o dono também é um cara tradicional. Prefere não usufruir desses aparatos tecnológicos.

Como não tem ninguém nos supervisionando, ele também fica à vontade.

Ele coça a bolsa escrotal arrastando o dedo indicador e o polegar na calça, pra friccionar o jeans contra o saco – infelizmente a gente repara essas coisas de vez em quando. Assim a coçada é mais satisfatória. Ele chega até a se inclinar um pouco pra frente. Tira o cigarro da boca, usando o dedo indicador e o dedo do cotoco, e aponta para a massa de pão na fôrma. O movimento da mão é rápido e faz as cinzas do cigarro caírem na massa.

- Essa – diz ele sem soltar a fumaça que puxou – é a massa já descansada – ele tenta limpar a massa passando o dedo indicador e o polegar pela cinza, mas só espalha ela ainda mais. E da boca dele sai um “merda!” junto com um pouco de fumaça.

Ele corta a massa dando mais ou menos o formato do pão.

- Você corta e põe na estufa – com o cigarro na boca ele põe a forma na estufa. – Pra tirar os pães do forno você precisa de luvas.

Não me diga.

Ele põe duas luvas de cozinheiro, que parecem de esquimó, mas são usadas por padeiros. Abre um forno, tira o cigarro da boca, colocando no único espaço das luvas, entre o indicador e o polegar, e tira a fôrma que estava lá com os pães prontos.

Antes de conseguir colocar a fôrma em cima da mesa, a mão na qual ele segura o cigarro, se atrapalha e solta a fôrma. Os pães caem todos no chão. Alguns ficam em cima do pé dele.

Ele tira o pé de baixo dos pães e eles caem no lugar onde seu pé estava. É quando ele percebe que tinha pisado nas fezes de algum animal. Um cachorro ou talvez um mendigo.

Ele põe os pães de volta na fôrma e coloca a fôrma na mesa.

- Não tem problema quando isso acontece? – eu pergunto.

- Isso o quê?

- Nada.

...

Quando vou atender as pessoas eu tenho que sorrir com a metade do rosto, mostrando os dentes que me sobram na boca. Do mesmo jeito que estou na foto do orkut.

No meio social, as pessoas vivem falando mal, envenenado as outras por trás, enquanto na frente dão meios sorrisos e desejam bom dia. A diferença é que aqui na panificadora nós fazemos isso literalmente.

Se o pão da santa ceia tivesse sido comprado aqui, acho que haveria risco de Jesus ter morrido de novo.

Um cliente feliz aparece e, como num daqueles links cheios de vírus que mandam pelo orkut, eu vendo aquele pão cheio de cinzas de cigarro, poeira do chão e de coliformes fecais.


Continua...

Pois é pessoal, comentem.
Semana que vem tentarei voltar ao ritmo, tanto no número de capítulos quanto no de merdas por linha.

2 comentários:

Anônimo disse...

eh por isso q eu soh compro pão no Líder...

Anônimo disse...

O pão do Nazaré é uma merda. Prefiro a padaria do português do posto (vocês já viram o suvaco de um galego?).
Nícolas, não se subestime... Apesar do único capítulo, foi style hehe