junho 30, 2006

L.U.S.T. (10, 11)

Anteriorment em L.U.S.T.:
Ah! se vocês estão lendo isso, é por que ja devem ter lido o resto. se virem.

L.U.S.T. é patrocinado por Guaraninto, o guaraná que cresce os ovos.



L.U.S.T.

Nicolas Dias


Capítulo 10

Dizem que uma boa maneira de curar ressaca é continuar bebendo.

Na panificadora, enquanto eu corto a massa e ponho no forno, como não tem ninguém supervisionando, eu fico bebendo um pouco.

Corto a massa, espirro nela e ponho no forno. Por causa da chuva que eu peguei naquela maldita festa, estou resfriado.

Pra tirar a massa do forno uso a luva de esquimó.

Nos supermercados não se fazem mais pães artesanalmente. Eles compram o pão quase pronto congelado e só fazem levar ao forno por uns dez minutos. Enquanto aqui, com a fabricação artesanal de pão, leva mais ou menos umas quatro horas pra ele ficar pronto.

Além de não precisar da mão-de-obra especializada pra fazer a massa do pão, não é necessário muito espaço. Só é preciso de um lugar pra guardar os pães congelados e os fornos.

Isso é uma evolução na indústria, muito mais rápido e barato. Mas o dono do lugar é um cara tradicional. Prefere fazer o pão artesanalmente. E isso bom pra mim, já que, como em todo processo de evolução da indústria, as pessoas acabam perdendo os seus empregos. Eu, pra manter meu emprego prefiro que ele continue fazendo e vendendo pão do modo menos lucrativo.

Enquanto isso Rodolfo foca querendo que câmeras de vigilância sejam instaladas no local. Mais uma evolução no trabalho para o desprezo dos humanos.

Eu bebo mais enquanto espero o pão ficar pronto.

Essa panificadora é uma daquelas onde se vendem várias coisas desnecessárias, mas que as pessoas compram. Coisas sem nenhum valor nutritivo como salgadinhos, refrigerantes e xaropes, e coisas que podem causar câncer como cigarros e Q-suco.

De vez em quando a gente tem que dar uma olhada nas prateleiras pra botar tudo em ordem.

Quando eu vou supervisionar os produtos, eu pego e escondo no bolso alguns confeitos de bolo e outros doces pequenos. O açúcar corta o efeito do álcool, suar também. Enquanto bebo, fico comendo doces perto do forno. Ingerindo açúcar e suando pra não ficar tão porre. Não sei se espirrar ajuda, mas eu espirro também.

Quando os pães ficam prontos, eu os tiro da forma e ponho no balcão. Espirro em cima dos pães carecas antes de chegar lá. Eu digo pro Fábio que está atendendo os clientes que ele pode ir lá pra dentro. Ele entra acendendo um cigarro. Eu fico pra entregar o pão cheio de vírus para as pessoas.

Elas pegam o pão e agradecem.

O dono daqui não tem culpa de vendermos esse pão contaminado pros clientes. Assim como o criador do orkut não tem culpa de que, lá, pessoas ponham pornografias ou marquem festas para vender produtos perniciosos.

O dono da panificadora chega pra pegar uns pães como de costume. Apesar da cara de doente, ele vem sorridente e diz:

- Bom dia.

- Bom dia, senhor. Tudo bem com o senhor? – eu falo por educação.

- Na verdade, não estou muito bem. Esses dias eu tenho estado com um mal-estar e hoje me deu uma dor de barriga. Deve ser uma dessas viroses novas.

Acho que ele pensou que eu queria mesmo saber como ele estava. Dados os sintomas, se ele comeu daquele pão de duas semanas atrás, do meu primeiro dia aqui, com coliformes fecais, ele pode estar também com amebíase, giardíase, febre tifóide, hepatite infecciosa ou cólera.

- E o que o senhor vai querer? – eu digo.

- Me veja oito carecas e dois massa-finas.

- Sim senhor – tu gosta de um careca, né? – Aqui está. Oito carecas e dois finas.

Além de ele estas com uma possível febre tifóide, eu ainda dou pra ele um saco de pães cheios de vírus da gripe.

Capítulo 11

Internet discada é uma merda.

O bom de ver pornografias no orkut, é que não há risco de pegar nenhum vírus como há nos sites. E é ainda melhor quando essas pessoas sabem que estão sendo vistas. Algumas gostam tanto da idéia que, periodicamente, colocam novas fotos pra agradar seus visitantes desconhecidos.

Tem uma pessoas, não vou citar nomes, que sempre que eu vou procurar pornografias, eu começo entrando no perfil dela. Eu não a adicionei, mas ela está nos meus favoritos. Mesmo assim, me sinto mais íntimo dela do que dos meus próprios amigos.

Eu vou no perfil dela e olho os “amigos”: “casal_quente”. “morena”, bundinha_gulosa”, e por aí vai. Ela tem quase mil amigos só desses.

Eu acho que, de tanto eu entrar lá, ela fica empolgada e toda semana ela acrescenta novas fotos. Novas poses, novos cenários, novos brinquedos sexuais.

Mas quando você vai investigar as pessoas que te conhecem, não é bom que elas saibam que você está observando.

Você vai nas configurações, desativa as visualizações de visitantes do perfil, e você pode bisbilhotar seus “amigos” tranquilamente. Assim você não sabe quem o visitou, mas as pessoas não sabem quando você as visita.

É isso que eu faço quando visito o perfil da melissa. Eu olho as fotos dela. Vejo os scraps que mandaram pra ela. E até vejo se ela respondeu os scraps.

Eu dou também uma olhada no perfil da katerine. E vejo, nos seus scraps, que Rodolfo a convidou pra mais uma festa.

Enquanto estou no computador, Rodolfo está na minha cama falando merda. Hoje é dia de folga pra ele. Com suas pernas pra cima, e a região lombar encostada na parede, apoiado nos cotovelos, ele tenta aproximar seu rosto da região pubiana. Ele diz:

- Davi, tu já conseguiu chupar o teu próprio pênis?

- Não!

- Nunca conseguiu?

- Eu nunca tentei, cacete!

- Ei, cara. Não precisa ficar envergonhado. Pode me contar os seus segredos mais obscuros. Eu, por exemplo, eu gosto de...

- Ei, ei, ei! Para com esse papo. Eu não quero saber dessas coisas. – eu saio para a cozinha.

- Mas eu só ia dizer que...

- Não, não, não! Eu não quero saber!

- Então ta – ele se levanta e vem pra cozinha também.

A cozinha está toda bagunçada. Estaria mais bagunçada se tivesse mais o que bagunçar.

Eu abro a geladeira pra ver o que comer.

- Cara, eu estive pensando... – diz ele como se fizesse isso. – ia ser bom se a gente arrumasse uma câmera digital pra tirar fotos nas festas e divulgar melhor no orkut.

- Um negócio desse é caro. Se tu quiser comprar, compra.

- Não não, vai sair baratinho. Um cara que eu conheço ta afim de vender uma, mas ele diz que tem que ser logo. Aí a gente divide a despesa.

- Ta. Mas eu fico com uma parte dos lucros, hein.

- Pode deixar.

Eu pego um pedaço de carne que está literalmente dando sopa. Uma sopa que eu fiz pra curar uma ressaca. Antes de colocar a carne na boca, ela cai no chão ainda perto da geladeira.

O que não mata engorda.

Eu me abaixo pra apanhar o pedaço de carne, quando eu pego, vejo que em baixo da geladeira tem uma correspondência. É uma conta de telefone. Eu pego e vejo, pela data, que já chegou há uma semana.

- Pô, Rodolfo1 olha isso aqui. Essa conta já chegou faz uma semana. Por que eu não sabia disso?

- Foi mal. Eu acho que eu deixei cair no chão e ela foi parar aí em baixo.

- Foi mal...

Eu abro a conta.

- O quê?! Mil paus de telefone?! Isso deve ta errado.

Rodolfo olha pra mim com uma cara de culpa e tenta dizer:

- Eh.. eh...

- Como é que pode uma conta dessas?

- Eh... Davi... é que... eu usei um pouco o telefone. Na verdade eu usei a internet. Mas eu não acho que a conta veio alta por que eu usei.

- E quantas vezes tu usou?

- Na verdade eu usei todos os dias quando tu tava no trabalho.

- Merda Rodolfo! Tu usou todo dia? É por isso que a conta veio alta.

- Foi mal.

Eu volto pro quarto pra desconectar da internet que já tinha me dado três mil reais de prejuízo. E o Rodolfo chegou pra morar aqui na metade do mês passado. Já fazem umas três semanas. Com a conta do mês passado e mais mil que ele já deve ter gastado nesse mês, já dá mais da metade do dinheiro que sobrou da minha mãe.

- Mas eu baixei uns filmes.

- Eu lá quero saber de... é... que filmes?

- Foi... – ele entra no quarto. – Me Atirei no Pau do Gato e Jorrada nas Estrelas.

- Mas que bosta! Eu saio pra trabalhar e tu fica vendo filmes de sacanagem.

- Eu deleto então.

- Não, não. Não deleta.

Eu sento na cadeira do computador.

- Merda, Rodolfo! que coisa branca é essa grudada no lado do computador?

- Foi mal.


continua...

preciso lembrar dos comentários?

junho 23, 2006

L.U.S.T. (9)

Anteriormente em L.U.S.T.:
Davi conhece Melissa, irmã da Katerine. Rodolfo começa a veder ecstasy por acaso. Davi e Rodolfo são uns emplastros.

me atrasei sim. mas estou aqui.

que se danem esses recados semanais...



L.U.S.T.

Nicolas Dias


Capítulo 9

- Cara, as pessoas no meio de uma festa não negociam preços – Rodolfo explica com aquela cara de quem está lendo as entrelinhas da situação. Sendo que ele nem sabe o que significa o termo “entrelinhas”.

Mas é verdade. Em festas as pessoas compram qualquer coisa a qualquer preço. Principalmente se, pra conseguir um sexo anal, estiverem tentando embebedar mulheres ou talvez homens.

- Eu vendo essa parada a um bom preço – ele fala apontando pra minha mochila, onde estão as jujubas, a cachaça e o ecstasy.

Estamos numa festa que o Rodolfo fez questão de divulgar pelo orkut. É uma daquelas festas de música eletrônica a céu aberto.

Ele deixou um scrap pra todos os seus “amigos” convidando pra lá.

Por que ele convidou todo mundo? Por que gosta deles? Não. Ele tem muitos “amigos” que nem conhece. Ele só queria vender ecstasy pra todos mesmo.

Na outra festa onde Rodolfo começou a vender ecstasy, ele arrecadou, segundo ele, um “rico dinheirinho”. Eu nem preciso fazer comentários quanto a essa expressão.

Com o dinheiro que ele conseguiu, resolveu comprar mais. Ele conseguiu com seus contatos, as pessoas de quem comprava bomba e outras coisas que podem deixar você impotente.

O negócio ia dar certo. Rodolfo sempre foi de falar com todo mundo sem que ninguém gostasse dele mesmo.

Ele deixou um scrap pra Katerine também. Com certeza ela vem. E hoje ela não me escapa.

Não sei se tem a ver com os salgadinhos que eu comi no aniversário dela, mas eu estou com um desarranjo intestinal desgraçado. Achei até melhor não comer muito antes de vir pra cá, se não eu correria o risco de não conseguir segurar a pasta aguada e fétida.

Rodolfo pega o ecstasy da minha mochila, sem pedir, e sai pra vender.

Parece que vai chover mas as pessoas não estão nem aí. A maioria está ocupada demais dançando fazendo movimentos repetitivos que parecem os sinais que os guardas de trânsito fazem.

Ninguém deve estar sóbrio.

Como eu não gosto de ser do contra, eu também bebo. Pego a cachaça de dentro da minha mochila e bebo devagar. Prefiro não estar trêbado quando Katerine chegar.

Acho que aqui o único que está visando o futuro, sou eu. Todos estoa querendo aproveitar esse momento que não vale nada. Apesar de eu ser o único que está com o olhar no futuro, o futuro para o qual eu estou olhando é daqui a cinco minutos, quando Katerine chegar.

Rodolfo continua fazendo sua parte. Fazendo com que as pessoas façam coisas das quais deveriam se arrepender no dia seguinte. Se arrepender de ter realizado suas fantasias sexuais bizarras. Ou de realizar fantasias sexuais bizarras dos outros.

Katerine está demorando. E eu continuo bebendo.

Uma garota muito boa passa com um cara na minha frente. E passa pela minha cabeça: “Velho, têm umas vadias bem gostosas por aqui, hein”.

- Quê que tu disse, doido? – grunhiu o corno que estava com a gostosa. Eu percebo que falei o que tinha pensado.

- Nada, nada.

Minha boca está fugindo de controle tenho que tomar cuidado pra não falar merda quando a Katerine chegar.

- O que tem a Katerine? – Rodolfo pergunta chegando de surpresa.

“Droga, eu falei de novo.”

- Falou o quê? – ele diz.

- Deixa pra lá...

- Por que tu tá mofino aí, cumpade?

- Eu? Mofino? – os gases pútridos que acompanham a massa fecal tentam sair por trás, mas eu uso minha força pra contrair o esfíncter e segurá-los.

- É! Tu mesmo.

Ele faz um sinal com a mão pedindo pra eu esperar, pega alguma coisa do bolso da calça e diz:

- Rapaz, toma uma dessa. É por minha conta.

Ele pega um comprimido de ecstasy e põe na minha boca. Ele encosta o dedo na minha língua e eu sinto um gosto estranho. Na hora, me vem a mente a imagem do Rodolfo coçando o rego com a mão dentro da cueca.

Eu cuspo o comprimido no chão e tento limpar a língua com as unhas.

- Não desperdiça! – ele grita.

Rodolfo pega o pontinho branco do chão e guarda junto dos outros que ainda não vendeu. E sai de novo.

Mais álcool garganta abaixo.

Katerina chega. Dessa vez ela não parece tão alegre quanto da outra. Ela nem fala com todo mundo.

Depois de mais um gole, eu vou em direção a ela pra dar um beijo no rosto e outro no vento, como dita a norma da frescura feminina.

Mas quando eu ando, perco o equilíbrio e, sem ter onde me segurar, me apoio em Katerine. E, sem ter tempo pra calcular onde me segurar, acabo me apoiando nos peitos dela. E de mão cheia.

- Opa! Desculpa! Eu ia caindo... – eu digo tentando não falar arrastado.

Não sei se ela pegou um susto ou ficou com raiva.

Acabo de perceber que bebi mais do que devia. Até por que estavaa de barriga vazia.

Mais gases se concentram na região retal. Eu uso toda minha força pra segurar. E os gases voltam pra dentro.

- Cê tá boa, hein! – pela cara que ela faz, parece que, devido a pronúncia, ela achou que eu não estava me referindo a ela, mas a uma parte do seu corpo em especial.

Essas pronúncias ambíguas...

No nosso dialeto, a expressão “me tira do sério”, em português de Portugal, significa “quer ir pra cama comigo?”. [Curiosamente isso é verdade, pessoal!]

- E a sua irmã?

- O que tem ela?

- Ela não vem?

- Não. Ela é muito boba. Muito inocente.

- Humm... ela é lésbica, né?

- O que, menino? – ela fala com tom de “o que, moleque?” – Tu tá doido? Daonde você tirou isso?

- foi ela que... – ah, pelo menos agora eu sei que ela não é lésbica mesmo.

- O que você tem hoje, hein? Quer saber? Eu vou embora.

Eu dou um passo grande pra segurar o braço dela antese que ela vá. Na mesma hora os gases chegam novamente no final do sistema digestório querendo sair. Dessa vez, com as pernas separadas, não dá pra segurar.

Shhhhh...pelo menos eles não fazem muito barulho ao sair. Na verdade se eu colocasse o dedo indicador perto da bunda, você poderia pensar que eu estou pedindo silêncio.

Eu contei seis segundos de evacuação ininterrupta dos gases. A propósito, gases quentes.

- Espera aí! – eu digo. – fica aqui comigo.

- Eu até ficaria. Mas contigo, porre como está, não.

- Espera aí. Desculpa...

Quando os gases terminam de sair dá pra ver que ela sente o cheiro. Ela faz uma cara de nojo e tampa o nariz. Pra disfarçar, eu faço uma cara de quem chupou limão e comeu pimenta ao mesmo tempo.

Dá pra ver que muita gente sentiu o cheiro.

Katerine vai e some no meio das pessoas que pelo menos metade são “amigos”do Rodolfo. Quando ela some começa a chover como acontece nos filmes sempre que acontece uma coisa ruim.

Rodolfo aparece de novo.

- E aí Rodolfo? – eu digo.

Ele estranhamente me abraça e faz aquele discurso de bêbado:

- Eu gosto de ti, cara! Tu é meu amigo! Eu te amo.

O mais estranho é que ele não bebeu nada. Acho que se eu estivesse sentindo todas as partes do meu corpo, eu sentiria a mão dele na minha bunda.

Eu pego a garrafa de cachaça e viro. Tomo gute-gute.

Existe um ditado persa que diz que a vinha fio regada com sangue de touro, de pavão e de porco. Isso quer dizer que o álcool te dá primeiro a força do touro, depois a vaidade de um pavão e, por fim, você rola no chão como um porco.

Eu bebo até cair no chão.

Quando vejo estou jogado no chão, numa possa de água marrom. Não, eu não estou falando de lama. A certos níveis de álcool no sangue seus músculos não funcionam por falta de estímulos cerebrais. Seu diafragma para e você não respira, seu coração pode parar de bater e seu esfíncter anal pode parar de contrair. Estou falando de merda diluída em água.

Rodolfo está se preparando pra fazer uma respiração boca a boca em mim.

- Hei! Sai, sai! Para com isso! – eu digo.

Estou deitado na possa fedorenta.

Eu me sento e a merda aguada escorre pelo meu cabelo, pelas minhas costas e pela minha camisa nova.

Tem um pequeno aglomerado de pessoas em volta. Katerine está lá. Todos me vêem ridículo, sentado numa possa de merda. E todo mundo descobre quem soltou aqueles gases fedorentos. Até pra eles eu sou um idiota. E ainda por cima mal educado.

continua... nua...

comentários... se acharem conveniente.

junho 17, 2006

Crônicas de um rapaz desesperado

Olá meus caros bocós...
Estreamos hoje a sessão de entrevistas com uma impressionante história contada à um de nossos redatores por alguem que nao podemos revelar (mas que o próprio besta se entrega durante a história)... vocês vão saber quem é.
Pois é, o nobre rapaz conta o que aconteceu com ele durante um daqueles que ele imaginava ser um dia comum quando se dirigia ao seu cursinho preparatório. Porem se revela uma intrigante e estapafúrdia aventura em busca de apenas um pouco de dignidade. Divirtam-se... e não esqueçam de comentar, assim nos faz sentir que não estamos fazendo isso em vão.
obrigado
Ovos duros - Equipe de Jornalismo e Entretenimento
Crônicas De Um Rapaz Desesperado

Quando eu estou prestes a descer do ônibus... Porraaaa... Não é que me dá um colapso agudo do 3° grau (uma vontade de passar um fax filha da puta). Meu irmão pensa num cara que esfregou o dedo (ritual usado pelos Celtas pra passar a dor de barriga; um costume presente até os dias de hoje. Sem embasamento científico).
Quando eu desci do ônibus, o colapso agudo do terceiro grau não tinha acabado de evoluir para o colapso agudo da quarto grau elevado a quinta potência....
Pronto o que era tragédia se tornou uma desgraça... O Julia nunca foi tão longe naquele momento. O meu coração disparou.

Calma...

Não tire conclusões precipitadas meu caro leitor.

Impulsionado pelo crescente fluxo de adrenalina... Meu cérebro emitia contínuos sinais para as terminações nervosas do meu intestino grosso (em outras palavras, doido, arreia esse barro que aqui ta foda.... Ou tu caga ou tu se fode).

Cada sinal de transito era... Uma ameaça.

A cada lombada... Uma possível desgraça.

A cada buraco... Um desespero.

Aquela sensação de mal estar... Tu começa a suar frio... A tremer na perna. Só que agora, as pontas das minhas unhas pareciam vibrar incessantemente.
Anos e anos de treinamento nas montanhas do Julia com o mestre Nyo Roy. Veio aquela mensagem subliminar: "lembre-se, o verdadeiro poder está dentro de você, concentre-se no seu objetivo”. Foi aí que me lembrei da técnica centenária dos Ovos Duros™... Uma técnica antes fútil, trivial... desconsiderada por muitos estudiosos do kung-fu. E se trata apenas de exercícios para as nádegas e que agora era vista como a minha única salvação.
Ainda restavam dez sinais para a minha chegada no Julia... Após analisar as possíveis situações que eu iria passar, tais como:

1) Sair do ônibus e passar um fax atrás de um arbusto.
2) Tentar pegar um táxi (mas estava sem dinheiro).
3) Me borrar todinho e ser zoado pelos passageiros.
4) Entra o amor da minha vida no ônibus e eu literalmente ia me esfacelar todinho ao lado dela...

Minha técnica adicionada ao kaioken do Goku já estava se esgotando. Restavam apenas três contrações, no máximo quatro. Tudo estava perdido e eu me via parado no sinal do entroncamento. Quando de repente, Deus ao ouvir minhas preces, me enviou um sinal... Eu já estava na ultima contração.... A figa parecia não surtir mais efeito... Entregava a Deus... E eu entreguei. Quando uma senhora sentada no seu estabelecimento de materiais de construções. Mais ou menos com uns 40 anos, de estatura baixa e passiva me chamou atenção por sua humildade, conversando com um de seus subalternos olhou para mim dentro do ônibus...
Em frações de segundo puxei acordinha do ônibus que parecia mais uma corda de salvação para entrada na casa de Deus. O sinal tocou como um pedido de socorro desesperado (motora abre a porra dessa porta, senão eu to fudido e vou me cagar aqui mesmo). Meu irmão, eu nem senti o chão fixando o meu olhar naquela singela senhora. E com pouquíssimas palavras ela entendeu a mensagem com meu olhar tipo (tia eu tenho que fazer coco agora senão a senhora vai ter sérios problemas com o seu assoalho).
Foi como transar duas vezes em seguida atingindo o nirvana. Um alivio espiritual. Foi o melhor coco da minha vida. O meu espírito parecia ter descarregado todas as minhas energias negativas.
Devo parar por aqui meu caro, devo ir. Quem sabe em uma outra hora continuo minhas histórias.

junho 09, 2006

L.U.S.T. (8)

Anteriormente em L.U.S.T.:
Davi jah nao eh tao vadio. Ele comecou a trabalhar. mas ainda eh o mesmo boboh de sempre.
[a linguagem de internet eh devido a desconfiguracao do meu teclado. Acho que isso aconteceu por causa do Dia do Demonio - seis do seis de dois mil e seis(6-6-06)]

Semana passada eu esqueci um paragrafo, mas aih vai ele...

Nao nos responsabilisamos pelos danos cerebrais provenientes da leitura desse texto.



L.U.S.T.

Nicolas Dias

...

Eu deveria avisar esses pobres coitados de que estão comprando um produto não muito confiável que poderá ser prejudicial à saúde deles. O que eu faço em relação a isso? Continuo vendendo pão pra todos.


Capítulo 8

Mais uma coisa boa no orkut (uma das únicas), é que você pode sempre ver a data do aniversário das pessoas que você esquece ou nem sabe mesmo.

Hoje é o aniversário da Katerine. 17 de fevereiro.

Como eu não tenho o telefone dela, que eu não pedi da outra vez, eu tenho que mandar apenas um scrap. Tem gente que faz isso, mesmo tendo o telefone. Nem liga pra dar os parabéns ou coisa assim. Isso demonstra a consideração que se tem pelos “amigos”.

Não foi burrice minha não pegar o telefone dela. Infelizmente eu tive que usar o papel higiênico, onde eu ia anotar o número dela, para me limpar de vômito que ela projetou em mim.

Eu entro na página de scraps dela pra deixar um lá, com a minha foto do lado, para que ela me veja mais uma vez, se familiarize ainda mais comigo, para ter uma sensação de segurança quando me ver novamente, e vejo mais do que esperava ver.

No último scrap mandado, tinha uma foto de uma garota com um fenótipo de incríveis genes recessivos. Pele branca e fina, cabelos lisos e claros, e olhos que eu não sei dizer se são azuis ou verdes. Sua aparente fragilidade faria qualquer homem se sentir forte e útil.

Do lado da foto está escrito: “melissa: parabéns, maninha! feliz aniversario!”.

É irmã da Katerine? Eu nem sabia que ela tinha irmã. Muitas características da personalidade também são genéticas, mas talvez ela tenha a inocência que eu procurava na Katrine. Inocente e frágil, é como nossos pais acham que somos, não importa quantos anos tenhamos. Eu fui criado praticamente só pela minha mãe. Talvez eu também esteja querendo cuidar de alguém. Diferente de caras que procuram, às vezes sem perceber, mulheres parecidas com suas genitoras, devido à vontade reprimida no subconsciente, de fazer sexo com suas próprias mães.

Eu clico na foto dela pra ver melhor. Ela parece ser interessante, mesmo assim eu nem leio o que ela diz de si mesma. Eu acho que a pior forma de conhecer uma pessoa é procurando saber o que ela acha de si mesma. Prefiro tomar minhas próprias conclusões.

Saber o que os outros acham também não é tão bom. Mas é menos ruim. Eu olho os depoimentos que os outros escreveram sobre ela.

Lá tem um depoimento da katerine e de mais outras duas pessoas. Os três dizem praticamente a mesma coisa: “a melissa... eu nem sei o que dizer...”.

Num mundo como este, o do orkut, onde as palavras não valem nada, é melhor não dizer nada mesmo.

O aniversário dela é dia nove de outubro. Nove de outubro aconteceu alguma coisa importante... ah! Foi o dia em que o Rodolfo espancou meus colegas no banheiro da Unama.

Ela tem dezesseis anos. Mas é muito mais bonita do que a Katerine.

Eu acho que estou bisbilhotando demais. Mas e daí? Quantas vezes eu não fiquei erectus vendo pornografias no orkut? Isso não é muito diferente.

Eu volto para a página anterior pra deixar meu scrap pra Katerine. Como sempre, deixando as coisas pra última hora. Depois de mais de meia hora pensando no que dizer, eu apenas escrevo: “nem sei o que dizer...”. As palavras aqui não valem nada, então nem diga. E na outra linha: “feliz aniversário”.

Dou uma olhada nos meus recados e vejo um scrap da Katerine me convidando para o aniversário dela. Vai ser numa daquelas recepções onde fazem colações e quinze anos.

A festa está marcada para as oito horas, e já são sete e meia.

Eu só lavo o rosto, molho o cabelo, passo o desodorante seco até fazer uma bola branca debaixo do sovaco, pego minha mochila, onde ainda está o meu caderno da Unama e minha caixa de jujubas, e saio de casa. Usando a roupa menos surrada. Com a velha mania de deixar tudo pra última hora, eu esqueço de mijar.

A mochila e as jujubas servem para eu não pagar o ônibus. Era assim que eu economizava o dinheiro do transporte antes de deixar a faculdade.

Eu pego caixa de jujubas, seguro numa mão e faço o sinal pro ônibus. Entro por trás, entrego algumas jujubas nas mãos dos passageiros, paro perto do cobrador e digo:

- Boa noite pes-soal o que eu a-cabei de en-tregar nas mãos dos senhores passageiros são os pacote da deliciosa jujuba que custa apenas cinqüenta centavo cada uma ou duas pelo um real ou três pelo um vale transporte. Eu agradeço a cooperação dos senhores que Deus abençoe a todos e uma boa viagem.

Ta certo que esses vendedores geralmente vendem doces de dia, mas, mesmo assim, tem gente que compra.

Eu desço do ônibus sem pagar.

O caminho inteiro eu fico com vontade de mijar. Mas eu acho que sou do tipo que precisa beber pra criar coragem de urinar em público.

Eu chego ao endereço. Katerine está lá recepcionado as pessoas. Recebendo as pessoas com um grande sorriso, apesar de não estar agüentando usar aquela roupa. Será que ela faz isso no aniversário todos os anos? Não sei como ela agüenta. Em certas religiões os devotos se auto-flagelam para alcançar a purificação. No meio social, isso é equivalente. As pessoas se sacrificam só pra que os outros gostem delas. Mesmo que as pessoas não gostem se si mesmas.

Eu falo com ela.

- Oi! Você está bonita – mentira. Eu prefiro ela sem toda essa maquiagem.

- Obrigada.

Depois de um sorriso diplomático e de um beijinho no rosto e outro no vento, bem diplomáticos, ela me leva pra dentro da festa.

Todo mundo bem vestido e só eu maltrapilho.

Ela me conduz pra uma mesa onde está só a garota do orkut com inesquecível fenótipo. Katerine me apresenta pra ela.

- Davi, essa é minha irmã, Melissa.

Eu finjo surpresa.

- Prazer! – eu digo.

- Melissa, esse é o Davi.

Melissa sem expressar surpresa nenhuma diz:

- Eu sei, eu vi ele no orkut ainda agora.

Será que ela viu que eu visitei o profile dela a mais ou menos uma hora?

- Ah! É? – diz Katerine. – Então conversem enquanto eu falo com os convidados.

Tem umas pessoas da minha antiga turma da Unama, mas ninguém com quem eu falava.

Um silêncio cancerígeno se faz entre nós, enquanto eu tento não olhar demais pra ela.

- E então... – ela diz – você costuma bisbilhotar pessoas que você não conhece no orkut?

É, ela viu que eu olhei o orkut dela.

Eu dou um sorriso sem graça com meu lado direito.

Outro silêncio apéptico e corrosivo.

- E aí? – ela começa de novo. – de onde você conhece s minha irmã?

- Lá da Unama. A gente era da mesma turma.

- Era? Por que não é mais?

- Por que eu saí do curso.

- Ah, ta! E o que você ta fazendo agora?

Eu ia dizer: “conversando com você”, mas eu não quis parecer tão idiota logo de cara.

- Eh... humm... é...

- Nada?

- Isso!

A partir daí a conversa foi boa. Mesmo ela me deixando sem graça às vezes. Essas brincadeiras que ela tira, demonstram que ela foi com a minha cara.

Só depois do terceiro copo de refrigerante é que eu lembro que eu tenho que ir ao banheiro. Mas eu posso ir depois. Pra não acabar com a conversa, eu deixo pra pedir o telefone dela depois.

O tempo passa e a Katerine vai de um lado pro outro, mas nunca para na mesa. É assim a festa toda.

Como já ta quase no final da festa, a gente ta há um bom tempo conversando e eu ainda não toquei no assunto “sexo”, ela pode achar que eu tenho namorada ou que sou bicha.

- Você tem namorado? – eu pergunto. Eu vi que ela não tem mesmo, mas eu quero puxar esse assunto.

- Não.

- E você pretende ter? – credo! Esse papo é canalha, agora que eu fui notar.

Eu olho pra ela e, aproveitando o papo canalha, levo o copo até a boca e faço uma cara de “quiero tu cuerpo”. Ela diz:

- Eu sou lésbica.

- Pfrrrr – o refrigerante, que aparece nos comerciais de TV, sai todo pelo meu nariz e volta pro copo. Acho que isso não constava no orkut dela.

É... acabou a festa. No sentido de que não tem mais nada pra mim e no sentido de que a festa acabou mesmo. Os convidados já estão indo embora.

É só então que Katerine senta do meu lado me dá um beijo no rosto e me diz: “Tchau!”.

- O que? – eu digo.

- Eu Já tenho que ir.

- Mas já?

- É.

- Então me dá teu telefone pra gente marcar pra sair.

Ela diz o numero.

- Espera. Deixa eu anotar.

De repente ela fica com pressa.

Eu levanto a camisa pra colocar a mão no bolso de trás e tirar o papel que estava reservado para o telefone.

Melissa se despede.

Eu pego a caneta e Katerine repete. Eu anoto o número.

Quando eu coloco o papel no bolso, ela me dá um beijo no rosto de modo que ela beija o canto da minha boca.

Eu não sei, mas eu acho que por ficar algum tempo se pegar mulher nenhuma, aquele acidental semi-beijo me faz pensar logo em sexo. E eu lembro das pornografias do orkut.

Isso é o suficiente pra me deixar erectus.

Ela vai embora.

Sobram só alguns convidados dos quais eu não conheço nenhum.

Eu lembro que preciso mijar.

Eu entro no banheiro que não tem mictório e, como eu ainda estou erectus, me viro de costas pra privada, abaixo a calça até o joelho e me sento. Eu mijo sentado.

Termino de me aliviar, levanto e dou logo a descarga.

Eu olho pra trás e vejo o papel no qual está anotado o telefone da Katerine girando junto com a água da privada. Ele deve ter ficado por cima da camisa dentro do bolso. Na hora de tirar a calça deve ter caído.

Com a calça caída até o calcanhar, eu me jogo de joelhos no chão e meto a mão na privada pra pegar o papel. Mas ele já entrou na toca do cocô.

De joelhos, na frente do vaso, e com o braço enfiado até o cotovelo dentro da água, eu perco o telefone que a Katerine acabou de me dar.

Eu vou embora.

Como é meia noite, e os vendedores de jujubas não trabalham há esta hora, eu tenho que esperar e pagar o ônibus pra voltar pra casa.


continua...


possoal comentem! os comentarios sao muito gratificantes e estimulantes.

junho 01, 2006

L.U.S.T. (7)

Anteriormente em L.U.S.T.:
Depois de sair da universidade, Davi encontra Katerine no orkut. Quando isso acontece, Rodolfo o encontra também. Como este é totalmente sem noção, decide ir morar com Davi. Diante dessa proposta, infelizmente, irrecusável, nosso pobre diabo o abriga. Houve também uma tenta tiva miserável, da parte de Davi, de ficar com Katerine.

Pessoal, essa semana não foi muito produtiva, em termos criacionais. Estou em época de provas. Por isso só deu pra postar um capítulo.



L.U.S.T.

Nicolas Dias


Capítulo 7

Infelizmente, eu não cago dinheiro. Se cagasse, estaria agora mesmo limpando a bunda pra sair pra lanchar ou algo assim. Mas estou aqui trabalhando nesse emprego de merda.

Se bem que trabalhar numa panificadora não é tão ruim. Pelo menos aqui, diferente de nos supermercados, eles não te exploram, fazendo você trabalhar de domingo a domingo, o dia todo, por apenas um salário mínimo. Eu não poderia trabalhar num supermercado por causa do meu problema de coluna. Maldita cifose.

Cifose é quando sua coluna tem um desvio anormal para os lados. No meu caso, a minha coluna tem um desvio para a direita, na região toráxica. Quando eu era menor, jogando videogame, sempre que fazia o personagem (bonequinho, como tem gente que insiste em chamar) pular, eu acompanhava o movimento dele com os ombros. Talvez isso não tenha nada a ver com o problema, mas eu sempre lembro disso.

Depois que minha mãe parou de me mandar dinheiro e morreu, não sei se foi bem essa a ordem dos fatos, eu tive que começar a trabalhar.

Quem me arrumou esse emprego foi o Rodolfo. Ele trabalha nesse mesmo lugar, só que de noite. Não, aqui não, depois das dez, não se transforma em uma casa de strip gay noturna – apesar de achar que Rodolfo, com sua aparência de prostituto diurno, levaria jeito nesse ramo. Ele trabalha como vigia.

Ele trabalha de noite e eu de dia. (rimou!)

Rodolfo está trabalhando por que também largou o curso na Unama. Na verdade não foi ele quem largou. Quando ele foi reprovado, o pai dele ficou mordido e não quis mais pagar o curso, que é ligeiramente caro.

Ele voltou a morar com o pai, depois de viver com a avó, quando já era adolescente. Ele não se dava bem com o pai. O velho era um dentista conhecido. Era um cara tradicional quanto à educação, diferente da avó, que criou Rodolfo com liberdade.

O pai dele não aceitaria ficar pagando pra ele ficar vadiando.

Segundo ele, o pai o expulsou de casa por causa disso. Mas não sei não. Como o pai era tradicional, talvez ele tenha, em certos momentos, da sexualidade do garoto, devido as roupas coloridas e o jeito dele. Se eu tivesse ele como filho, e ele ainda fosse viado, já teria dois motivos pra expulsá-lo.

Meu trabalho aqui é botar a massa na fôrma, botar a fôrma no forno e, às vezes, eu atendo as pessoas. É como acontece no orkut. Quando estou cuidando do pão, é como se eu estivesse na frente do computador, fico à vontade, poderia até ficar de cueca. Mas mas quando estou atendendo as pessoas, é como quando eu fui falar pessoalmente com a Katerine, Não sou eu mesmo, não sou ou outra pessoa, não sou ninguém. Creio que as pessoas, quando me vêem aqui, acham que não sou ninguém. Geralmente as pessoas atrás do balcão são associadas a peões, e as pessoas na frente do balcão se associam a reis ou rainhas.

No meu primeiro dia de trabalho, um cara me diz o que tenho que fazer. É o Fábio.

- Depois que a massa é feita, ela tem que descansar um pouco – ele diz. – depois disso, você tem que fazer os cortes e a modelagem, por na estufa, pra massa crescer, aí põe no forno. Quando tiver pronto, se for careca, ta pronto pra sair, se não, tem que esperar esfriar. Alguma dúvida?

Até um macaco cego, com um tumor maligno no cérebro e sem braços faria isso.

- Não.

Depois de falar a teoria ele passa pra prática.

Aqui a prática deve ser mais fácil, diferente de quando você vai falar com a mulher dos seus sonhos com a qual, efetivamente, nunca conversou. Só pelo orkut.

Falando nisso, no orkut, já me mandaram um monte de vírus. Pessoas que você conhece te mandam um scrap dizendo, “ei, o seu nome, olha essas fotos da nossa festa!”, e mandam um link, onde você só entra pra pegar um vírus.

Isso acontece por que existe uma falha na segurança do orkut e no Windows Internet Explorer, que permite que certas pessoas descubram senhas com certa facilidade. Assim elas podem entrar no orkut pela conta dos outros e fazer qual quer coisa. Bisbilhotar os outros, assumir uma suposta homossexualidade, cancelar contas e mandar vírus para seus “amigos”. É isso ou os idiotas salvam suas senhas quando acessam a internet de lan-houses. Só informação adicional.

Rodolfo queria que o dono daqui colocasse umas câmeras de vídeo para a segurança, mas o dono também é um cara tradicional. Prefere não usufruir desses aparatos tecnológicos.

Como não tem ninguém nos supervisionando, ele também fica à vontade.

Ele coça a bolsa escrotal arrastando o dedo indicador e o polegar na calça, pra friccionar o jeans contra o saco – infelizmente a gente repara essas coisas de vez em quando. Assim a coçada é mais satisfatória. Ele chega até a se inclinar um pouco pra frente. Tira o cigarro da boca, usando o dedo indicador e o dedo do cotoco, e aponta para a massa de pão na fôrma. O movimento da mão é rápido e faz as cinzas do cigarro caírem na massa.

- Essa – diz ele sem soltar a fumaça que puxou – é a massa já descansada – ele tenta limpar a massa passando o dedo indicador e o polegar pela cinza, mas só espalha ela ainda mais. E da boca dele sai um “merda!” junto com um pouco de fumaça.

Ele corta a massa dando mais ou menos o formato do pão.

- Você corta e põe na estufa – com o cigarro na boca ele põe a forma na estufa. – Pra tirar os pães do forno você precisa de luvas.

Não me diga.

Ele põe duas luvas de cozinheiro, que parecem de esquimó, mas são usadas por padeiros. Abre um forno, tira o cigarro da boca, colocando no único espaço das luvas, entre o indicador e o polegar, e tira a fôrma que estava lá com os pães prontos.

Antes de conseguir colocar a fôrma em cima da mesa, a mão na qual ele segura o cigarro, se atrapalha e solta a fôrma. Os pães caem todos no chão. Alguns ficam em cima do pé dele.

Ele tira o pé de baixo dos pães e eles caem no lugar onde seu pé estava. É quando ele percebe que tinha pisado nas fezes de algum animal. Um cachorro ou talvez um mendigo.

Ele põe os pães de volta na fôrma e coloca a fôrma na mesa.

- Não tem problema quando isso acontece? – eu pergunto.

- Isso o quê?

- Nada.

...

Quando vou atender as pessoas eu tenho que sorrir com a metade do rosto, mostrando os dentes que me sobram na boca. Do mesmo jeito que estou na foto do orkut.

No meio social, as pessoas vivem falando mal, envenenado as outras por trás, enquanto na frente dão meios sorrisos e desejam bom dia. A diferença é que aqui na panificadora nós fazemos isso literalmente.

Se o pão da santa ceia tivesse sido comprado aqui, acho que haveria risco de Jesus ter morrido de novo.

Um cliente feliz aparece e, como num daqueles links cheios de vírus que mandam pelo orkut, eu vendo aquele pão cheio de cinzas de cigarro, poeira do chão e de coliformes fecais.


Continua...

Pois é pessoal, comentem.
Semana que vem tentarei voltar ao ritmo, tanto no número de capítulos quanto no de merdas por linha.

maio 31, 2006

E por falar em moda...


Por Danillo Francisco


Como parte de minhas publicações (bronquites crônicas), aí vai um texto que ninguém vai gostar.

As pessoas, como excelentes capitalistas que são, sempre sonham em possuir um carro superesportivo enceradinho na garagem, tipo Audi TT, Porsche Carrera ou, pros mais soberbos sonhadores, a lenda Ferrari, mas nunca conseguem por motivos óbvios: falta de grana. Mas brasileiro que é paraense sempre dá um jeito, mesmo que seja de forma ridícula, com requintes de crueldade.

Issso acontece em todo o Brasil, mas a situação se agrava em Belém justamente pelo fato de as pessoas serem paraenses (sem apologia racista) e possuírem uma cultura naturalmente cabocla (etimologicamente, cabocagem/cabocada/macaquice).

Num país 'em subdesenvolvimento' como o nosso (Brasil, pros amigos que acessam da Suécia entenderem), possuir um veículo automotor é um luxo, mesmo que este seja com o motor mais fraco da categoria ou que nem categoria tenha. Atualmente, a válvula de escape pra isso é o "Tuning"; a arte de personalizar um carro na tentativa de reproduzir as características dos veículos esportivos de acordo com o gosto do proprietário, o que dá uma margem imensa pro mau-gosto. O carro pode ser fraco como for, mas se estiver "tunado" (personalizado) é outra história! E isso automaticamente significa mais prestígio social; ou menos, dependendo do senso crítico do observador.

Na verdade, o Tuning sempre existiu, mas hoje ele é tido como febre devido à influência de jogos de video game e filmes com apologia ao Tuning cujos nomes merecem ser citados, porém eu não quero citar (estou puto). Desde que eu era pequeno (lá pro começo dos anos 90) eu já ouvia meu tio dizer que estava querendo "envenenar" o Chevrolet Monza que ele tinha. A diferença daquela época pra agora é que não fabricavam tantos bagulhos pra instalar no carro a ponto dele ficar parecendo um carro alegórico. E isto tem influência direta da mídia; naquela época não passava "Velozes e Furiosos" no cinema, e sim, "Christine - O Carro Assassino" no SBT. Dito e feito: meu tio sensatamente colocou película da mais forte (que foi veemente retirada numa Blitz) e só. O carro dele era preto, 4 portas, peliculado, ou seja, o suficiente pras catyrobas de Mosqueiro ficarem loucas.

Mas hoje não. Os proprietários de veículos acoplam na lataria de seus carros comuns peças dos mais variados e ridículos formatos, variando de um aerofólio do tamanho de uma asa delta na parte posterior a "leds" (light emission dispositives), pequenas lâmpadas tipo de árvore de natal, no local de saída do esguicho do pára-brisas (seria pra iluminar a água que limpa o vidro?). Na realidade, o que mais me insulta é essa banalização diária da cultura automobilística e a falta de senso de ridículo por parte dos donos desses carros.

Voltemos ao conceito de poluição visual aprendido no Rêgo Barros (caderno da 5ª série): "Qualquer coisa que incomode as pessoas quando vê uma placa feia ou aut-dor". Entenderam? Acho que não. Então vamos ao conceito existente no site da Joana Prado, vulgarmente conhecida como Feitiçeira (e bote vulgar nisso): "Poluição visual pode ser definida como qualquer tipo de 'agressão' aos olhos da população". Apesar de achar que não foi ela quem escreveu isso, vamos ao que interessa: carros tunados de forma inescrupulosa pelo povo ficam uma merda e isso faz doer meu cérebro.

maio 28, 2006

Moda é coisa de boiola

Primeiramente, antes de começar, essa não é minha área de matéria, mas como eu to inútil ultimamente, vou fugir um pouco da minha responsabilidade... Só hoje ta? A parte de crônicas aqui é com o Danillo. Mas lá vou eu.

A minha escolha pra interação social nos meus tempos de colégio (Rego Barros) nunca foi daquelas consideradas as melhores pela maioria, por vários motivos que não cabem aqui dizer (eu não quero dizer). Mas até ai, tudo normal, por que numa escola onde todos usam uniformes, pouca coisa pode ser feita para se destacar entre os outros, a não ser as meninas consideradas jeitosinhas e aqueles empolgados que sempre inventam alguma coisa e provavelmente são repreendidos por isso.
Na escola os sintomas as quais vou descrever a seguir já são notados, porem não com tanta intensidade quanto em outros lugares onde as pessoas são permitidas se vestir a paisana, como eu pude perceber na Universidade Federal do Pará. Lembro que isso se repete em outros lugares principalmente aqueles de grande apelo, não digo popular, mas que lotam de pessoas incluídas nas classes mais abastadas da sociedade, mas isso é só a título de informação. O que quero dizer é: a mídia é uma mierda.

Entrar para um curso onde a maioria é proveniente de Nazarés e Teoremas da vida me ajudaram a perceber isso. Todos meus “colegas” de turma se vestem igualmente, as vezes até de uma forma ridícula, a ultima moda inventada por eles pode até ser o melhor exemplo. Eles usam uns óculos estilo Stallone Cobra, aqueles de xerife barrigudo americano, e o pior, até as mulheres aderiram a essa tendência estúpida. Tem outra, uma espécie de sandália que era o calçado oficial de palestinos e judeus antes da invenção do tênis. Notável que essa sandália, por ser feita de couro surrado e provavelmente vagabundo, deve ser extremamente desconfortável, mas todo mundo usa. Tem também uma espécie de mochila extremamente afeminada, ela é um saco com um corda que fecha a boca e essa corda serve de alça da mochila também, imaginem um saco de batatas só que preto e escrito “Alternativa” nele, e o que mais impressiona é que são os homens que usam essas coisas e não as mulheres, o que não seria tão estranho. Poderia citar outros exemplos (bermudas floridas, cabelo moicano, óculos na nuca, cabelos crespos grandes), mas já chega.
Bem, em conversa com essas estranhas criaturas (sim, me arrisquei fazendo isso) constatei que eles, e elas também, não se importam muito se o acessório ou moda adquirida ficaram bem neles, o que importa é que eles estão dentro da maldita tendência, por que realmente alguns poucos ficam bem, mas a maioria não. Aí está, onde o ser humano foi parar? O que aconteceu com a criatividade e a personalidade? Eu mesmo respondo. Na sarjeta (resposta válida pras duas perguntas). Vou terminar por aqui, por que não consigo escrever mais nada.

maio 25, 2006

L.U.S.T. (5, 6)

Anteriormente em L.U.S.T.:
Davi perde sua bolsa de estudos e passa a viver em casa fazendo, praticamente, nada.
Sua maior ocupação (se é que se pode chamar assim) é ver o orkut. Isso mesmo amiguinhos, Davi entra no mundo do orkut, o que o diexa mais sujeito ainda às calamidades insólitas da roleta russa do infortúnio.

Os personagens da história a seguir só existem na mente doentia do autor. Qualquer semelhança com a realidade é mera coincidência.


L.U.S.T.

Nicolas Dias


Capítulo 5

Como se diz, coisa ruim chama coisa ruim. Uma desgraça vem atrás da outra. É uma reação em cadeia, um efeito dominó... já deu pra entender.

Quando vou ao banco, retirar dinheiro para fazer as compras, vejo que minha mãe não depositou dinheiro nenhum na minha conta.

Dizem também que “notícia ruim vem voando”. Essa nem sempre é verdade. Do mesmo modo que minha mãe não soube que eu perdi a bolsa de estudos e larguei o curso, eu não soube que ela estava no hospital na fase terminal de um câncer.

Só quando eu liguei para o celular dela, pra saber por que não tinha mandado o dinheiro, é que uma mulher, para a qual meu pai tinha vendido o telefone, me deu a notícia de que ela tinha falecido.

Mas como eu não soube nem que ela tinha câncer?

Ela deve ter descoberto quando eu já estava morando em Belém. Deve ter descoberto em uma fase irreversível e devia estar conformada com isso.

Se eu não tivesse omitido o fato de ter saído da universidade, pelo menos teria falado com ela mais uma vez. E eu nem a visitei nas minhas férias.

Não me leve a mal, mas eu fico feliz de ter, ao menos, guardado o dinheiro que ela mandou nesses meus meses de vadiagem. Mesmo assim preciso arrumar um emprego por aqui já que meu pai nem quer saber de mim.

Ela morreu sem ver o sonho dela realizado: seu único filho formado. Dr. Davi Castro.

Pelo menos meu pai teve um sonho realizado: ver minha mãe morta.

Quando estou em meu “apertamento”, desfrutando das delícias de morar sozinho, e maravilhando-me com as inutilidades diárias dos aparelhos telecognitivos, ou seja, estou pelado em casa assistindo “vale a pena ver de novo”, ouço a campainha tocar.

Me visto rapidamente, resmungando e me perguntando quem seria, mesmo sabendo que só poderia ser o dono do prédio, quem me alugava essa espelunca.

Eu abro logo a porta, esperando ver a cara-de-seu-barriga do dono, pois não tem um maldito olho mágico nela. E quem entra empurrando a porta com duas malas nas mãos é, nada mais nada menos do que o Rodolfo.

Então você se pergunta: como é que ele foi parar lá?

Eu sei. Pode me chamar de idiota. Mas eu tinha a idéia de que quanto mais eu falasse de mim, mais as pessoas iam achar que eu era um cara verdadeiro, um livro aberto, como dizem. Mais os meus “amigos” confiariam em mim. E por isso eu coloquei, no orkut, endereço o endereço da minha casa. Burro.

Além de uma coisa ruim ser seguida de outra coisa ruim, logo depois de uma coisa boa sempre acontece uma desgraça.

Quando eu adicionei Katerine, Rodolfo me achou.

Ele vai colocando as malas no chão da minha sala que não é minha, perto dos móveis que não são meus e eu vejo de perto novamente aquelas orelhas deformadas que parecem ser feitas com a pele solta do pescoço de um velho.

A orelha dele é assim de tanto levar porrada nela. É um pit-boy um daqueles caras que lutam Jiu-jitsu e querem dar porrada em todo mundo quando estão porres. As cartilagens, como a da orelha, não se regeneram muito bem. Quando as lesões são grandes se formam cicatrizes de tecido conjuntivo no lugar de cartilaginoso. Isso acontece devido a um problema nas células. É por isso que a orelha dele tem esse aspecto de rosa feita com papel higiênico dobrado. No caso do Rodolfo, papel higiênico usado.

Outro problema estranho relacionado às células é chamado de situs inversus. Por causa da deficiência dos cílios das células, os órgãos dos afetados não tomam suas posições corretas na hora da formação. Deve ser interessante, o fígado do lado direito, o apêndice em cima do umbigo, etc. só informação adicional.

Rodolfo larga as coisas, me dá um abraço e diz:

- E aí, Davi? Tudo bem?

As pessoas podem ser até suas piores inimigas, mas quando precisam de um favor, são agradáveis o quanto for possível.

- Ta fazendo o que da vida?

Antes que eu respondesse, coisa que eu nem queria fazer mesmo, ele muda de assunto:

- Cara... – Já sei que ele quer um favor – Tem uma vaga aí? Preciso de um lugar pra dormir.

Ele pode estar amável do jeito que for, mas ele também pode mudar de humor de repente. Como aconteceu quando ele me arrancou cinco dentes do lado esquerdo. Por isso respondo:

- Tem...

- Ah! Ótimo! E tem comida aí? – ele pergunta. Eu ainda estou balançando a cabeça respondendo a primeira pergunta. – Estou com fome.

Capítulo 6

É claro que, depois do “Oi! Quanto tempo!”, você tem que convidar a garota dos seus sonhos pra sair. Mas nunca deixe ela escolher o lugar.

Não sou muito de festas em boates e tal, mas, infelizmente, foi esse o lugar que katerine escolheu para nos encontrarmos.

Fico esperando-a na parte mais calma da festa, onde se encontram os excluídos. As feias que não têm amigas gostosas e os nerds. Rodolfo vai dar uma volta no meio dos empolgados. As pessoas fazem movimentos repetitivos, como se estivessem apitando uma partida de futebol, onde os jogadores são extravagantemente mal educados.

Ela aparece, bem apresentável, com suas características fenotípicas dadas pelos genes recessivos. Deus abençoe os genes recessivos.

Fala com as pessoas como se conhecesse todos da festa. Então chega até mim e me dá um beijo de um lado do meu rosto e do outro e encosta, do outro lado, sua bochecha na minha beijando o vento. Coisas de menina. E diz:

- E aí, Davi? Diz, o que você anda fazendo? – ela quer conversar com todo esse barulho?

Sem querer responder e dizer que estou vadiando em tempo integral e sobrevivendo com o dinheiro que restou da minha mãe que morreu, faço uma pausa, no mínimo, idiota. Aquele negócio de ser desinibido é mais difícil do que na frente do computador. Não consigo ser outra pessoa, muito menos ser eu mesmo. Eu, finalmente, digo:

- Diga você o que está fazendo! – esse você, usado como eu usei, indica que eu estou aplicando nela.

- Eu perguntei primeiro.

Eu aceito responder, mas antes eu acabo fazendo uma pausa, no mínimo, imbecil.

- Ehh... eu... é... eu estou projetando coisas para cultivar planos para o meu futuro.

- Ah, ta!

Eu acho que ela não entendeu. É incrível como as pessoas não admitem quando não sabem algo. Acho que é assim que surgem os dogmas das religiões. Alguém faz uma pergunta a um líder religioso. O cara não sabe responder a pergunta sobre a própria religião, e acaba dizendo que aquela é uma coisa inquestionável. Que aquilo “é assim porque é”. Se você quer religião, esqueça a inteligência. Se você quer ter vida social, como as pessoas querem, esqueça religião e inteligência.

- Quer dizer, merda nenhuma? – ela diz.

Ela entendeu sim. Às vezes superestimamos a burrice das pessoas.

- Eu, ao contrário de certas pessoas, – ela continua apontando pra mim com o lábio inferior – ainda estou na universidade.

Essa foi uma piadinha daquelas que as pessoas fazem quando têm intimidade entre si. Eu sorrio com o lado direito do rosto.

Um cara chega, dá um beijo no rosto dela e deixa com ela um copo de cerveja. Eu não sabia que ela bebia. Não sei se isso se deve à falta de religião ou de inteligência.

Sabe? Os gregos eram provavelmente uns alcoólatras, qual quer coisa era motivo de uma bacanal. Engraçado, eles bebiam em nome dos deuses, mas hoje todos bebem para se satisfazer ou satisfazer aos outros (pense em “beber socialmente”). Uma das comemorações dos gregos era o primeiro porre de uma criança, aos quatorze anos. Hoje em dia as pessoas têm até filhos nessa idade. Então me pergunto: por que nunca fiquei porre antes? Talvez nunca tenha precisado.

Pego o copo e, olhando para ela, dou só uma bicada. Estendo a mão para devolver. Ela diz:

- Fica com esse. Lá vem outro pra mim.

E outro cara dá um beijo no rosto dela e deixa outro copo.

Ela bebe a metade do copo.

- Pois é... – eu digo. E fico mexendo a cabeça pra frente e pra trás como um peru.

Penso que a gente está numa festa, mas talvez ela não queira ficar com ninguém. Mesmo assim vale a pena tentar ficar com ela logo.

Mas preciso criar coragem pra avançar. Acho que beber ajudaria a criar coragem. Esse seria um bom motivo pra beber, eu acho. As pessoas bebem pra criar coragem pra fazer várias coisas. Pra brigar, pra fornicar extraconjugalmente, pra mijar em público e até pra dar, isso mesmo, é nesse sentido que eu estou falando.

Ao menos eu vou beber por um bom motivo. É um motivo egoísta, mas é bom só por que não é ruim. Um amigo meu, não tinha coragem pra aprender a dirigir. Tinha medo de que houvesse um acidente e ele morresse no carro. Ele bebeu pra criar coragem. Esqueceu do cinto. Pelo menos, quando ele bateu o carro, atravessou o pára-brisa e não morreu dentro do carro.

Eu termino de beber o copo, mas acho que não é o suficiente para me dar coragem. Decido comprar outra cerveja. Peço pra ela esperar e vou lá.

Rodolfo fala com Katerine e eles trocam alguma coisa. Ela põe o que recebeu na boca.

Quando volto, Katerine está ficando com outro cara.

Acho que agora ela se tornou um motivo pra beber. Não pra criar coragem, mas para atenuar meu sofrimento de, mais uma vez, estar sozinho. Não sei por que, mas eu lembro da minha mãe agora.

Rodolfo chega até mim, e mostra uma coisa quase sem tirar do bolso. Um frasco em forma de cilindro cheio de pílulas brancas.

- Que é isso aí? – eu pergunto.

Ele me olha com uma cara de quem acha que é mais esperto que alguém e diz:

- Isso é ecstasy, meu filho.

Foi isso que ele deu pra ela.

- Onde é que tu arranjou isso?

- Numa outra festa aí.

Flashback.

Rodolfo estava com um colega numa festa. Esse colega estava vendendo ecstasy. Mas o bocó caiu na desgraça de ficar viciado no produto de sua venda.

Muita gente acha que, por ser consumido apenas em fins de semana, o ecstasy não vicia.

Ele, além de te deixar ligado, aumenta a temperatura do seu corpo, faz com que você não tenha vontade de mijar. Você poderia beber vários litros de água sem mijar uma gota.

Uma pessoa pode ficar intoxicada se beber quinze litros de água sem botar nada pra fora. E, calamitosamente, isso aconteceu com o colega do Rodolfo.

O doido cai desmaiado no chão com a barriga inchada. Rodolfo tenta acordá-lo, mas ele não responde. Rodolfo olha para um lado e depois para o outro, como se tivesse achado uma moeda que alguém deixou cair, e põe a mão no bolso do cara. Depois de ter achado uma coisa roliça, mas não o que procurava, procura mais um pouca e pega o vidro de ecstasy que o doido tava vendendo.

Na festa.

- E por que tu tá me mostrando isso? – pergunto.

- Eu quero saber se tu tá afim de comprar – diz ele dando de ombros.

Quando olho pra Katerine, ela já está ficando com outro cara que não era o primeiro.

Eu tive várias mulheres na minha vida. Tudo bem, nenhuma sabia disso. Mas Katerine, a mulher que ficou depois que minha mãe morreu, com seus adoráveis genes recessivos, está se entregando às vicissitudes da alcoolfilia, da toxicomania, e da promiscuidade.

Eu tomo, como a mamãe dizia, “gute-gute” o segundo copázio de cerveja. Como o meu corpo não é um dos mais avantajados e eu tomo rápido, o efeito do álcool aparece logo.

Depois de Katerine ter ficado com o quarto cara na festa, ela vem até mim de novo. Andando lentamente e cambaleando um pouco. Falando mais arrastado do que coxa de bailarina de lambada.

- Ei! Tu sssumiu! Onde é que tu tava? – ela diz.

- Fui bem ali.

- Eu senti tua falta.

Olha esse papo.

- O quê? – ela pergunta.

Eu falei isso ou só pensei?

Acho que falei.

- Nada.

Ela põe os braços em volta do meu pescoço e me olha. Na verdade não dá pra saber se ela está olhando pra mim ou pra alguém atrás de mim.

Eu ponho as minhas mãos na cintura dela.

Seus olhos vão se fechando, seu rosto se aproximando e sua cabeça se curvando, como fazem as cabeças das atrizes peitudas das novelas na hora do beijo. Eu curvo minha cabeça na posição correta.

Com minhas mãos em sua cintura, sinto seu abdômen contrair. Ela põe a língua um pouco pra fora e um jato de vômito voa no meu rosto.

Eu já não estava passando muito bem. Com vômito na cara não dá pra agüentar. Eu vomito em cima dela.

Rodolfo que não tinha nada a ver com a estória, mas estava assistindo tudo de perto, vomita em cima de nós dois.



Continua...

por hoje...

maio 21, 2006

Marketing Multinível para leigos



Algum de vocês já ouviu (ou caiu) nisso? Fiquem com suas respostas alojadas bem aí no subconsciente. Em primeiro lugar, precisamos definir o que seria esse tal "marketing multinível". Trata-se de uma estratégia comercial que surgiu no final dos anos 70 nos Estados Unidos com a filosofia básica de vender produtos de grandes empresas através de distribuidores (pessoas anatomicamente humanas), numa base hierárquica, para o mercado consumidor (como eu e você). Mas esse mesmo você que lê este texto (muito puto) deve estar se perguntando: "Ora merda, mas essa estratégia não é a mesma do mercado tradicional?". PÉÉÉN!. A resposta é "não"; é é aí que começa a merda.

A diferença do marketing multinível para o mercado tradicional é que a empresa recruta distribuidores do seu produto e estas podem convidar seus amigos para também serem distribuidores (como numa espécie de Orkut com fins lucrativos), porém subordinados à primeira. Se você, como participante dessa condição, conseguir convidar pessoas para serem seus "discípulos", você ganha uma porcentagem do lucro destas pessoas, além de que, se conseguir convidar muitas pessoas ou ser um grande vendedor, a empresa pode até conceder viagens de turismo e grana, muita grana (sim, o suficiente para comprar BMWs). Mas esses barões multinível são geralmente os pioneiros, que lucram de forma exponencial os rendimentos percentuais gerados por todo o resto da pirâmide; como uma progressão geométrica dos lucros. A onda é que em muitos países isso é ilegal.

O papo das empresas é sempre o mesmo: independência financeira, trabalho em casa ou oportunidade de negócio próprio. Confesso que já fui convidado para participar e nunca me senti uma pessoa ilustre por esse motivo. Os que me convidaram são somente conhecidos meus e pensaram que eu seria mais um espertalhão querendo vender e criar filhos (netos, bisnetos e assim por diante) em esquema piramidal e alienante.

Minha raiva não se refere ao processo de vendas propriamente dito, e sim à mediocridade dos vendedores. Essas pessoas, quando foram me convidar para o esquema, chegaram pra falar comigo de uma forma totalmente diferente da que me tratavam antes de serem parasitas. Mas nem por isso eu quis ser amigo deles. Acho que também não preciso ser inimigo.

Para os vendedores, tudo parece um mundo maravilhoso, mas esta situação gera os famosos amigos parasitas de nossa classe média que, ilusoriamente (e desesperadamente) se enfiam nesta modalidade de venda sonhando com as malditas cifras enquanto tentam diuturnamente nos convencer para que compremos o produto (mesmo quando sabem que não temos condições de adquiri-los); já que quanto mais eles vendem, mais ganham comissões e ainda cresce seu prestígio dentro da mini-sociedade hierárquica dos vendedores multinível (sim, eles têm reuniões e eventos). São um bando de babacas que sonham em ficar ricos às custas dos outros (os otários). Se você não tem um amigo que venda produtos em estratégia multinível, considere-se uma pessoa feliz.

Mas não confundam os produtos "Natura" e "Avon" (que nossas progenitoras adquirem quando recebem seus salários) com aqueles envolvidos no marketing multinível. A diferença é que os distribuidores desses produtos (geralmente pessoas do sexo feminino) estão diretamente vinculadas à empresa, recebendo comissões e não possuindo uma escala hierárquica. Ou seja, nenhuma vendedora de Avon é melhor do que a outra. A não ser que ela seja parecida com minha namorada (lembrando que minha mulher não vende nada disso).

Uma das justificativas desse processo é: "As pessoas compram produtos de quem elas mais confiam, seus amigos". Isso é ilusão; em primeiro lugar, porque não é o amigo quem fabrica o produto e, em segundo, porque é burrice mesmo e não se fala mais nisso. Só as pessoas mais ingênuas fazem isso. Até porque um amigo vendedor geralmente não é teu amigo de verdade.

O que mais me chama a atenção é que uma estratégia de quase 30 anos tem tido sucesso no Brasil (talvez por ser um país onde até a classe média é burra). Por exemplo, o "suco de NONI" (garrafa de 1 litro), campeão de vendas do marketing multinível internacional, custa R$150. Lembremos que 1 litro de gasolina no Brasil (mesmo com a independência de petróleo) custa, em média, R$2,65, e todo mundo reclama. A diferença é que o suco de NONI tem vitaminas, minerais e há evidências de que ele previna o câncer (tipo o açaí, do grosso). Outra diferença é que foi publicado um artigo científico alegando que o NONI provocou toxicidade hepática em dois consumidores, sendo que um deles precisou de transplante de fígado. Incrível mesmo...

maio 18, 2006

L.U.S.T. (3, 4)

Anteriormente em L.U.S.T.:
Davi estuda na Unama, com uma bolsa de estudos do ProUni, e "ajuda" seus colegas a tirarem boas notas por metodos não ortodoxos. Mas quando ocorre um problema com as notas deles, os colegas tentam descontar suas raivas no pobre diabo.
Dpois de receber a ajuda de Rodolfo, Davi fica lhe devendo um favor. O problema é que Rodolfo é um cara meio inconveniente.

O conteúdo a seguir não é recomendado para pessoas que não têm um pênis. (bricadeira, meninas)


L.U.S.T.
Nicolas Dias

Capítulo 3

Há certas coisas que não se pode, em hipótese alguma, ficar devendo pra alguém. Você pode comprar no cartão de crédito, pedir dinheiro emprestado para um amigo ou um agiota e até pedir um lanche fiado [no Jovem!], mas nunca fique devendo um favor. Principalmente se for um favor grande pra alguém que você não conhece.

Ninguém acreditaria no que fiz. Katerine, com toda a sua inocência (e um pouco de frescura), não acreditaria no que fiz. Nem eu mesmo acredito, mas eu estava devendo aquele maldito favor e tive que pagar.

Rodolfo não ia muito com a cara do Pinto. E o desgosto que ele tinha pelo professor crescia, como os peitos das atrizes quanto mais ricas ficam, quando este sacaneava com ele nas aulas práticas de anatomia. E eu também não sabia o que se passava na cabeça do Pinto pra querer ficar sacaneando com ele daquela forma. Talvez o Pinto tenha merda na cabeça.

Metade da turma é do tipo que fica empolgada para mexer nos cadáveres, peças, como eles chamam. Eles se imaginam num filme policial ou de suspense onde o “cara da autópsia”, que toma cafezinho em cima do “presunto”, descobre que a vítima, uma mulher, não foi estuprada pelo suspeito, mas que se matou acidentalmente enquanto se masturbava com um aspirador de pó e uma faca de churrasco bem amolada.

Mas Rodolfo não era um desses empolgados. Na verdade, ele era uma mocinha. Tinha nojo do nas peças anatômicas. Dava pra notar isso quando ele fazia aquela cara, estreitando os olhos e deixando a boca em forma de ânus usado (entenda como quiser). E era exatamente por isso que o professor mandava ele pegar nos corpos. Não sei por que, mas, mesmo sendo um cara meio rebelde e justiceiro ao mesmo tempo, Rodolfo era submisso ao Pinto.

Até aí tudo bem, pelo menos pra mim. Mas o problema é quando o professor manda ele enfiar a mão dentro do morto por um corte feito no abdômen.

Rodolfo olha para a classe com uma cara de “Eu?! Fazer isso?!... Sim eu faço...”. E a turma olha pra ele com uma expressão que quer dizer exatamente “então vai!”. Ele olha para o defunto e de novo para a turma com cara de “sim eu faço...”. A cara da turma de “então anda logo!”, o sorriso escroto do professor e a vontade de não querer parecer um fresco na frente de todos, fez com que ele enfiasse a mão no defunto.

O fato de ele ter acabado de comer, junto com o nojo que ele tinha fez com que houvesse um refluxo de seu bolo alimentar semi-digerido, em outras palavras, ele vomitou, baldeou na mesa.

Isso fez com que ele ficasse não muito alegre com o Pinto, já que Rodolfo se intitulava o macho do bando, mas naquela hora se sentia apenas uma merda.

Nessa hora veio a merda do favor que eu devia. Ele pediu, especificamente, para que eu defecasse em cima do carro do professor.

Na madrugada de sábado para domingo, eu vou ao endereço que Rodolfo me deu anotado em um papel. A casa do Pinto. Ainda bem que o carro não está estacionado onde fica o cachorro. Esse Pinto é um animal mesmo.

Antes de passar para o lado de dentro do terreno, eu avisto o alvo da missão. Estranho um cara solteiro, como ele é, ter um carro daqueles, grande, tipo aqueles nos quais as famílias americanas de filmes levam a família toda para viajar (pense em Férias Frustradas).

Como eu não sou besta, pelo menos nem tanto, eu deposito o cocô num saco plástico pra não ter o trabalho de subir no carro e cagar numa posição incômoda. A imagem passou pela minha cabeça: eu acocado em cima do carro, com a calça nos tornozelos, o alarme do carro tocando, o Pinto soltando o cachorro pra cima de mim, e eu, sem calça, correndo dele pela rua.

Além disso eu estava sem cagar tinha uns cinco dias. Quando as pessoas ficam muito tempo sem fazer cocô, a bosta vai acumulando no intestino, e acabam ficando com o que chamam de nó na tripa.

Abro o saco e deixo a bosta cair sobre o capô do carro.

O alarme não toca.

Não satisfeito, pois também tinha minhas aversões ao Pinto, cubro a minha mão com a parte limpa do saco e espalho a merda pelo capô e pelo pára-brisa. Enquanto faço isso o fedor vai ficando mais forte.

Quando vejo o cocô espalhado por cima do carro, eu lembro que tinha comido milho.

É a primeira vez que eu uno o útil ao agradável desse jeito.

Missão cumprida! Não devo mais merda nenhuma (literalmente).

Na manhã seguinte passo na frente da casa do professor só pra ver a cara dele quando visse o carro. Passo pra ver o Pinto empurrando bosta, no bom sentido, pra fora do pátio.

Mas fiquei impressionado. Aquela não era a casa do Pinto. Lá morava uma velhinha que ia viajar no fim de semana com seus dois filhos adotivos.

Nessa hora eu senti culpa, remorso e cheiro de merda. Senti-me uma merda.

Eu poderia ajudar a velha a limpar o carro e deixá-la ter um feliz domingo com as duas crianças. O que eu faço quanto a isso? Vou embora de cabeça baixa.

Na segunda logo que chego na Unama encontro o Rodolfo. Ele vem até mim com um sorriso maléfico, esperando que eu dissesse que deu tudo certo com o favor dele.

- heheh! Como é que foi lá? – ele diz.

- É... humm... é... eu acho que houve algum erro de cálculo. – eu respondo.

- Como assim?

- Por que eu estraguei o fim de semana de uma velha? – eu digo.

Novamente ele faz aquela cara de dúvida.

- O que?

Ele puxa um papel do bolso da calça, que é a mesma que ele estava usando na semana passada, olha para o papel e depois pra mim. A expressão de dúvida se torna uma expressão de raiva.

- Acho que tu me deu o endereço errado, cara – digo.

Ele se deu conta de quem era que eu estava falando.

- Seu filho da...!

Sem pensar duas vezes, ele me espanca. Espanca como se eu fosse um saco de bosta.

Como eu ia adivinhar que ele tinha me dado, no lugar do endereço do Pinto, o endereço da avó dele, que o criou depois que a mãe dele morreu, quando ele ainda era criança?

Quando eu acordei já estava no hospital.

Capítulo 4

Era pra eu ter passado só uns dois dias em repouso, mas, com os ótimos cuidados médicos que eu recebo no ponto socorro, acabo tendo que ficar duas semanas de cama, no kit-net mobiliado que eu alugo.

Se Rodolfo tivesse estudado, e soubesse o que eu sei de anatomia da cabeça, ele poderia ter me deixado surdo ou coisa assim. Mas ele apenas me arrancou cinco dentes do lado esquerdo, me fazendo ficar igual ao Tiririca. Não se preocupe, eu acabei me acostumando a sorrir parra as pessoas só com metade do rosto, e a mastigar a comida com o lado direito.

Só depois de uns vinte dias é que eu volto pra Unama e, como se não bastasse ter faltado todo aquele tempo, ainda pego uma suspensão de um mês por brigar na universidade. Todas essas faltas são suficientes para me reprovarem nesse semestre. E eu não posso nem mostrar um atestado para retirarem as faltas por que eles só aceitam se for por doenças infecto-contagiosas.

Com a reprovação, eu perco a minha bolsa do ProUni, e não posso mais pagar o curso. E só por ficar passando cola, eu nunca serei bem sucedido como minha mãe sonhava que fosse. Só por passar merda no carro dos outros, eu nunca serei o doutor que ela sonhava que eu fosse.

Foi por isso que ela me mandou pra Belém. Me tornar doutor.

Ela me manda dinheiro todo mês pras despesas. Mas o dinheiro não dá pra pagar o curso.

Depois de abandonar a universidade, eu fico se nada pra fazer.

A melhor coisa que eu fiz (ou a pior), já que eu tava ferrado mesmo, foi comprar o meu convite pro orkut. Comprei por cinco reais. Fiquei mordido quando soube que tinha um site que vendia convites ao preço simbólico de um centavo. E fiquei mais ainda quando soube que um convite era de graça.

Você pode encontrar qualquer coisa no orkut. Desde comunidades de piadas sem graça, até venda de coisas (ou pessoas) estranhas. Tem uma comunidade chamada “Eu sou garota de programa”. Uma boa forma de ver pornografia na internet é vasculhar comunidades como esta. Dá pra ver casais empolgados em seus momentos “íntimos”, grandes lábios entre as pernas com seus bigodes em forma de triângulo ou de asa delta, mulheres usando seus dedos, mulheres de várias nacionalidades: japonesas, com seus rostos infantis; francesas, com seus cabelos nas axilas; tailandesas, as tailandesas são desgraçadas, ouvi dizer que elas têm os músculos do esfíncter tão desenvolvidos que podem quebrar cascas de nozes na vagina.

Mas também se podem ver perversões das mais bizarras. Mulheres enrabando homens, ou introduzindo latas de Coca-cola em si mesmas, homens fazendo coisas, que em teoria são anatomicamente impossíveis, em si mesmos.

Essas coisas são proibidas. Eu poderia denunciá-las. Elas seriam retiradas de lá. E pessoas com menos de dezoito anos, que estão no orkut, mas não deveriam estar, pois também é proibido, não veriam essas aberrações das vicissitudes da sexolatria. O que eu faço em relação a isso? Continuo procurando mais pornografias no orkut.

No meio social as pessoas são como uma peça de xadrez, você é identificado por sua forma e posição. Uma pessoa bem apessoada e bem vestida, mesmo que seja feia, é associada a um bispo, rei ou rainha. Mas se é um maltrapilho, ou um negro mesmo que bem apessoado, não associam você nem a um cavalo.

Quanto mais as pessoas te vêem, mais elas gostam de você. Elas se acostumam com seu rosto e você deixa de ser mais um estranho. Todos acham que te conhecem. As pessoas gostam de ver as coisas de novo, de prever as coisas. Isso dá a sensação de que está tudo sob controle. Por que você acha que todo mundo assiste chaves até hoje?

Acho que “adicionar” é o verbo que eu mais ouço hoje em dia.

Quando as pessoas estão no orkut, querem ser vistas pelos outros, e elas querem que os outros vejam que muitas pessoas as conhecem. É por isso todo mundo adiciona toda e qualquer pessoa que “conhecem” ao sou grupo de “amigos”. Se você encontrar um colega, com o qual estudou na primeira série, adicione. Se encontrar um vizinho seu, adicione. Se encontrar alguém que viu andando na rua, adicione. Se encontrar o Cidney Magal ou o Reginaldo Rossi, adicione. E, principalmente, se encontrar a garota pela qual você se apaixonou, mas nunca trocou palavras, adicione! No meu caso, a garota era a Katerine.

Lá esta ela, com sua pele branca e fina como pelo de coelho, seu cabelo liso como asfalto de estrada americana, e seus olhos verde-acinzentados, por culpa dos genes recessivos. Eu adoro os genes recessivos. São responsáveis pelos olhos claros e cabelos lisos, sem falar que as pessoas com polidactilia possuem genes dominantes e as normais possuem genes recessivos. Esses aspectos de fragilidade são, na maioria, dados por genes recessivos. E essa fragilidade das mulheres faz com que nos sintamos mais fortes, mais úteis, mais necessários.

Uma ótima forma de se aproximar de uma pessoa que você não conhece bem é, depois de ter sumido da vida dela, chegar de repente e dizer “Oi! Quanto tempo?!”. O fato de já te conhecer vai dar a ela um ar de confiança e de que tudo está sob controle. Ela vai gostar disso. Então você tem a chance de começar uma ótima relação sendo você mesmo, ou sendo outra pessoa, a pessoa que é na frente do computador. Desinibido como se estivesse só você e o teclado.

Depois de fazer isso, eu convido Katerine pra sair.

Continua...

Pessoal, não esqueçam de comentar.