maio 18, 2006

L.U.S.T. (3, 4)

Anteriormente em L.U.S.T.:
Davi estuda na Unama, com uma bolsa de estudos do ProUni, e "ajuda" seus colegas a tirarem boas notas por metodos não ortodoxos. Mas quando ocorre um problema com as notas deles, os colegas tentam descontar suas raivas no pobre diabo.
Dpois de receber a ajuda de Rodolfo, Davi fica lhe devendo um favor. O problema é que Rodolfo é um cara meio inconveniente.

O conteúdo a seguir não é recomendado para pessoas que não têm um pênis. (bricadeira, meninas)


L.U.S.T.
Nicolas Dias

Capítulo 3

Há certas coisas que não se pode, em hipótese alguma, ficar devendo pra alguém. Você pode comprar no cartão de crédito, pedir dinheiro emprestado para um amigo ou um agiota e até pedir um lanche fiado [no Jovem!], mas nunca fique devendo um favor. Principalmente se for um favor grande pra alguém que você não conhece.

Ninguém acreditaria no que fiz. Katerine, com toda a sua inocência (e um pouco de frescura), não acreditaria no que fiz. Nem eu mesmo acredito, mas eu estava devendo aquele maldito favor e tive que pagar.

Rodolfo não ia muito com a cara do Pinto. E o desgosto que ele tinha pelo professor crescia, como os peitos das atrizes quanto mais ricas ficam, quando este sacaneava com ele nas aulas práticas de anatomia. E eu também não sabia o que se passava na cabeça do Pinto pra querer ficar sacaneando com ele daquela forma. Talvez o Pinto tenha merda na cabeça.

Metade da turma é do tipo que fica empolgada para mexer nos cadáveres, peças, como eles chamam. Eles se imaginam num filme policial ou de suspense onde o “cara da autópsia”, que toma cafezinho em cima do “presunto”, descobre que a vítima, uma mulher, não foi estuprada pelo suspeito, mas que se matou acidentalmente enquanto se masturbava com um aspirador de pó e uma faca de churrasco bem amolada.

Mas Rodolfo não era um desses empolgados. Na verdade, ele era uma mocinha. Tinha nojo do nas peças anatômicas. Dava pra notar isso quando ele fazia aquela cara, estreitando os olhos e deixando a boca em forma de ânus usado (entenda como quiser). E era exatamente por isso que o professor mandava ele pegar nos corpos. Não sei por que, mas, mesmo sendo um cara meio rebelde e justiceiro ao mesmo tempo, Rodolfo era submisso ao Pinto.

Até aí tudo bem, pelo menos pra mim. Mas o problema é quando o professor manda ele enfiar a mão dentro do morto por um corte feito no abdômen.

Rodolfo olha para a classe com uma cara de “Eu?! Fazer isso?!... Sim eu faço...”. E a turma olha pra ele com uma expressão que quer dizer exatamente “então vai!”. Ele olha para o defunto e de novo para a turma com cara de “sim eu faço...”. A cara da turma de “então anda logo!”, o sorriso escroto do professor e a vontade de não querer parecer um fresco na frente de todos, fez com que ele enfiasse a mão no defunto.

O fato de ele ter acabado de comer, junto com o nojo que ele tinha fez com que houvesse um refluxo de seu bolo alimentar semi-digerido, em outras palavras, ele vomitou, baldeou na mesa.

Isso fez com que ele ficasse não muito alegre com o Pinto, já que Rodolfo se intitulava o macho do bando, mas naquela hora se sentia apenas uma merda.

Nessa hora veio a merda do favor que eu devia. Ele pediu, especificamente, para que eu defecasse em cima do carro do professor.

Na madrugada de sábado para domingo, eu vou ao endereço que Rodolfo me deu anotado em um papel. A casa do Pinto. Ainda bem que o carro não está estacionado onde fica o cachorro. Esse Pinto é um animal mesmo.

Antes de passar para o lado de dentro do terreno, eu avisto o alvo da missão. Estranho um cara solteiro, como ele é, ter um carro daqueles, grande, tipo aqueles nos quais as famílias americanas de filmes levam a família toda para viajar (pense em Férias Frustradas).

Como eu não sou besta, pelo menos nem tanto, eu deposito o cocô num saco plástico pra não ter o trabalho de subir no carro e cagar numa posição incômoda. A imagem passou pela minha cabeça: eu acocado em cima do carro, com a calça nos tornozelos, o alarme do carro tocando, o Pinto soltando o cachorro pra cima de mim, e eu, sem calça, correndo dele pela rua.

Além disso eu estava sem cagar tinha uns cinco dias. Quando as pessoas ficam muito tempo sem fazer cocô, a bosta vai acumulando no intestino, e acabam ficando com o que chamam de nó na tripa.

Abro o saco e deixo a bosta cair sobre o capô do carro.

O alarme não toca.

Não satisfeito, pois também tinha minhas aversões ao Pinto, cubro a minha mão com a parte limpa do saco e espalho a merda pelo capô e pelo pára-brisa. Enquanto faço isso o fedor vai ficando mais forte.

Quando vejo o cocô espalhado por cima do carro, eu lembro que tinha comido milho.

É a primeira vez que eu uno o útil ao agradável desse jeito.

Missão cumprida! Não devo mais merda nenhuma (literalmente).

Na manhã seguinte passo na frente da casa do professor só pra ver a cara dele quando visse o carro. Passo pra ver o Pinto empurrando bosta, no bom sentido, pra fora do pátio.

Mas fiquei impressionado. Aquela não era a casa do Pinto. Lá morava uma velhinha que ia viajar no fim de semana com seus dois filhos adotivos.

Nessa hora eu senti culpa, remorso e cheiro de merda. Senti-me uma merda.

Eu poderia ajudar a velha a limpar o carro e deixá-la ter um feliz domingo com as duas crianças. O que eu faço quanto a isso? Vou embora de cabeça baixa.

Na segunda logo que chego na Unama encontro o Rodolfo. Ele vem até mim com um sorriso maléfico, esperando que eu dissesse que deu tudo certo com o favor dele.

- heheh! Como é que foi lá? – ele diz.

- É... humm... é... eu acho que houve algum erro de cálculo. – eu respondo.

- Como assim?

- Por que eu estraguei o fim de semana de uma velha? – eu digo.

Novamente ele faz aquela cara de dúvida.

- O que?

Ele puxa um papel do bolso da calça, que é a mesma que ele estava usando na semana passada, olha para o papel e depois pra mim. A expressão de dúvida se torna uma expressão de raiva.

- Acho que tu me deu o endereço errado, cara – digo.

Ele se deu conta de quem era que eu estava falando.

- Seu filho da...!

Sem pensar duas vezes, ele me espanca. Espanca como se eu fosse um saco de bosta.

Como eu ia adivinhar que ele tinha me dado, no lugar do endereço do Pinto, o endereço da avó dele, que o criou depois que a mãe dele morreu, quando ele ainda era criança?

Quando eu acordei já estava no hospital.

Capítulo 4

Era pra eu ter passado só uns dois dias em repouso, mas, com os ótimos cuidados médicos que eu recebo no ponto socorro, acabo tendo que ficar duas semanas de cama, no kit-net mobiliado que eu alugo.

Se Rodolfo tivesse estudado, e soubesse o que eu sei de anatomia da cabeça, ele poderia ter me deixado surdo ou coisa assim. Mas ele apenas me arrancou cinco dentes do lado esquerdo, me fazendo ficar igual ao Tiririca. Não se preocupe, eu acabei me acostumando a sorrir parra as pessoas só com metade do rosto, e a mastigar a comida com o lado direito.

Só depois de uns vinte dias é que eu volto pra Unama e, como se não bastasse ter faltado todo aquele tempo, ainda pego uma suspensão de um mês por brigar na universidade. Todas essas faltas são suficientes para me reprovarem nesse semestre. E eu não posso nem mostrar um atestado para retirarem as faltas por que eles só aceitam se for por doenças infecto-contagiosas.

Com a reprovação, eu perco a minha bolsa do ProUni, e não posso mais pagar o curso. E só por ficar passando cola, eu nunca serei bem sucedido como minha mãe sonhava que fosse. Só por passar merda no carro dos outros, eu nunca serei o doutor que ela sonhava que eu fosse.

Foi por isso que ela me mandou pra Belém. Me tornar doutor.

Ela me manda dinheiro todo mês pras despesas. Mas o dinheiro não dá pra pagar o curso.

Depois de abandonar a universidade, eu fico se nada pra fazer.

A melhor coisa que eu fiz (ou a pior), já que eu tava ferrado mesmo, foi comprar o meu convite pro orkut. Comprei por cinco reais. Fiquei mordido quando soube que tinha um site que vendia convites ao preço simbólico de um centavo. E fiquei mais ainda quando soube que um convite era de graça.

Você pode encontrar qualquer coisa no orkut. Desde comunidades de piadas sem graça, até venda de coisas (ou pessoas) estranhas. Tem uma comunidade chamada “Eu sou garota de programa”. Uma boa forma de ver pornografia na internet é vasculhar comunidades como esta. Dá pra ver casais empolgados em seus momentos “íntimos”, grandes lábios entre as pernas com seus bigodes em forma de triângulo ou de asa delta, mulheres usando seus dedos, mulheres de várias nacionalidades: japonesas, com seus rostos infantis; francesas, com seus cabelos nas axilas; tailandesas, as tailandesas são desgraçadas, ouvi dizer que elas têm os músculos do esfíncter tão desenvolvidos que podem quebrar cascas de nozes na vagina.

Mas também se podem ver perversões das mais bizarras. Mulheres enrabando homens, ou introduzindo latas de Coca-cola em si mesmas, homens fazendo coisas, que em teoria são anatomicamente impossíveis, em si mesmos.

Essas coisas são proibidas. Eu poderia denunciá-las. Elas seriam retiradas de lá. E pessoas com menos de dezoito anos, que estão no orkut, mas não deveriam estar, pois também é proibido, não veriam essas aberrações das vicissitudes da sexolatria. O que eu faço em relação a isso? Continuo procurando mais pornografias no orkut.

No meio social as pessoas são como uma peça de xadrez, você é identificado por sua forma e posição. Uma pessoa bem apessoada e bem vestida, mesmo que seja feia, é associada a um bispo, rei ou rainha. Mas se é um maltrapilho, ou um negro mesmo que bem apessoado, não associam você nem a um cavalo.

Quanto mais as pessoas te vêem, mais elas gostam de você. Elas se acostumam com seu rosto e você deixa de ser mais um estranho. Todos acham que te conhecem. As pessoas gostam de ver as coisas de novo, de prever as coisas. Isso dá a sensação de que está tudo sob controle. Por que você acha que todo mundo assiste chaves até hoje?

Acho que “adicionar” é o verbo que eu mais ouço hoje em dia.

Quando as pessoas estão no orkut, querem ser vistas pelos outros, e elas querem que os outros vejam que muitas pessoas as conhecem. É por isso todo mundo adiciona toda e qualquer pessoa que “conhecem” ao sou grupo de “amigos”. Se você encontrar um colega, com o qual estudou na primeira série, adicione. Se encontrar um vizinho seu, adicione. Se encontrar alguém que viu andando na rua, adicione. Se encontrar o Cidney Magal ou o Reginaldo Rossi, adicione. E, principalmente, se encontrar a garota pela qual você se apaixonou, mas nunca trocou palavras, adicione! No meu caso, a garota era a Katerine.

Lá esta ela, com sua pele branca e fina como pelo de coelho, seu cabelo liso como asfalto de estrada americana, e seus olhos verde-acinzentados, por culpa dos genes recessivos. Eu adoro os genes recessivos. São responsáveis pelos olhos claros e cabelos lisos, sem falar que as pessoas com polidactilia possuem genes dominantes e as normais possuem genes recessivos. Esses aspectos de fragilidade são, na maioria, dados por genes recessivos. E essa fragilidade das mulheres faz com que nos sintamos mais fortes, mais úteis, mais necessários.

Uma ótima forma de se aproximar de uma pessoa que você não conhece bem é, depois de ter sumido da vida dela, chegar de repente e dizer “Oi! Quanto tempo?!”. O fato de já te conhecer vai dar a ela um ar de confiança e de que tudo está sob controle. Ela vai gostar disso. Então você tem a chance de começar uma ótima relação sendo você mesmo, ou sendo outra pessoa, a pessoa que é na frente do computador. Desinibido como se estivesse só você e o teclado.

Depois de fazer isso, eu convido Katerine pra sair.

Continua...

Pessoal, não esqueçam de comentar.

9 comentários:

Anônimo disse...

cara, isso tah ficando cada vez melhor...
concordo com as ideias apresentadas e idealizadas nesse texto... principalmente q o orkut eh uma merda.

tenha um bom dia

Anônimo disse...

naum tenhu nada p/escrever...
soh p/marcar presença mesmo!!!
rsrs...

tah muito bacaninha isso aki!!!
\o/

Anônimo disse...

Eu gostei da relação q vc fez c a vida e um jogo d xadrez e como vc explorou o orkut. Vou ficar esperando o resto...

Anônimo disse...

"Excelente". Essa seria a definição para esta saga. Não importa quantos capítulos terão; vou ler.
Impressionante a trama da história. Sempre fiquei com uma pergunta alojada em meu subconsciente: "Será que o jovem Nicolas vai se fuder mais ainda?"
É, vamos ver... Também tenho histórias pra contar, o que me falta é tempo. Perdoem-me por não ter postado nada na última quarta.

Anônimo disse...

O interessante é essa mistura de eventos que provavelmente aconteceram com possibilidades surreais (como perder 5 dentes heiuheuih)! Isso faz o leitor suspeitar se a história (provavelmente baseada em fatos reais) está sendo integralmente contada ou se há aloprações.

Anônimo disse...

eh, parece q a grande coqueluxe do nosso jornal eh a impressionante trama apresentada pelo nosso amigo nick bauer...
entao lembrem-se toda quinta tem um capitulo novo, e como o danillo disse, nao se sabe quantos capitulos sao...

voltem sempre

nota: quem eh rafael?

marcos (paco) disse...

porra... excelente hein rapaz... to acompanhando essa parada...
sinceramente tu consegue ser bizarro e insano ao mesmo tempo... parabéns rapaz. continue desenvolvendo esse ótimo trabalho

Unknown disse...

oh, yeah. [estou lendo]

Anônimo disse...

égua égua
senti nojo, sem ter vontade d parar d ler...
maluco tu hein??
(e kd a historia em quadrinhos da bixona superheroi???)
continuarei acompanhando essa saga...
=***