maio 25, 2006

L.U.S.T. (5, 6)

Anteriormente em L.U.S.T.:
Davi perde sua bolsa de estudos e passa a viver em casa fazendo, praticamente, nada.
Sua maior ocupação (se é que se pode chamar assim) é ver o orkut. Isso mesmo amiguinhos, Davi entra no mundo do orkut, o que o diexa mais sujeito ainda às calamidades insólitas da roleta russa do infortúnio.

Os personagens da história a seguir só existem na mente doentia do autor. Qualquer semelhança com a realidade é mera coincidência.


L.U.S.T.

Nicolas Dias


Capítulo 5

Como se diz, coisa ruim chama coisa ruim. Uma desgraça vem atrás da outra. É uma reação em cadeia, um efeito dominó... já deu pra entender.

Quando vou ao banco, retirar dinheiro para fazer as compras, vejo que minha mãe não depositou dinheiro nenhum na minha conta.

Dizem também que “notícia ruim vem voando”. Essa nem sempre é verdade. Do mesmo modo que minha mãe não soube que eu perdi a bolsa de estudos e larguei o curso, eu não soube que ela estava no hospital na fase terminal de um câncer.

Só quando eu liguei para o celular dela, pra saber por que não tinha mandado o dinheiro, é que uma mulher, para a qual meu pai tinha vendido o telefone, me deu a notícia de que ela tinha falecido.

Mas como eu não soube nem que ela tinha câncer?

Ela deve ter descoberto quando eu já estava morando em Belém. Deve ter descoberto em uma fase irreversível e devia estar conformada com isso.

Se eu não tivesse omitido o fato de ter saído da universidade, pelo menos teria falado com ela mais uma vez. E eu nem a visitei nas minhas férias.

Não me leve a mal, mas eu fico feliz de ter, ao menos, guardado o dinheiro que ela mandou nesses meus meses de vadiagem. Mesmo assim preciso arrumar um emprego por aqui já que meu pai nem quer saber de mim.

Ela morreu sem ver o sonho dela realizado: seu único filho formado. Dr. Davi Castro.

Pelo menos meu pai teve um sonho realizado: ver minha mãe morta.

Quando estou em meu “apertamento”, desfrutando das delícias de morar sozinho, e maravilhando-me com as inutilidades diárias dos aparelhos telecognitivos, ou seja, estou pelado em casa assistindo “vale a pena ver de novo”, ouço a campainha tocar.

Me visto rapidamente, resmungando e me perguntando quem seria, mesmo sabendo que só poderia ser o dono do prédio, quem me alugava essa espelunca.

Eu abro logo a porta, esperando ver a cara-de-seu-barriga do dono, pois não tem um maldito olho mágico nela. E quem entra empurrando a porta com duas malas nas mãos é, nada mais nada menos do que o Rodolfo.

Então você se pergunta: como é que ele foi parar lá?

Eu sei. Pode me chamar de idiota. Mas eu tinha a idéia de que quanto mais eu falasse de mim, mais as pessoas iam achar que eu era um cara verdadeiro, um livro aberto, como dizem. Mais os meus “amigos” confiariam em mim. E por isso eu coloquei, no orkut, endereço o endereço da minha casa. Burro.

Além de uma coisa ruim ser seguida de outra coisa ruim, logo depois de uma coisa boa sempre acontece uma desgraça.

Quando eu adicionei Katerine, Rodolfo me achou.

Ele vai colocando as malas no chão da minha sala que não é minha, perto dos móveis que não são meus e eu vejo de perto novamente aquelas orelhas deformadas que parecem ser feitas com a pele solta do pescoço de um velho.

A orelha dele é assim de tanto levar porrada nela. É um pit-boy um daqueles caras que lutam Jiu-jitsu e querem dar porrada em todo mundo quando estão porres. As cartilagens, como a da orelha, não se regeneram muito bem. Quando as lesões são grandes se formam cicatrizes de tecido conjuntivo no lugar de cartilaginoso. Isso acontece devido a um problema nas células. É por isso que a orelha dele tem esse aspecto de rosa feita com papel higiênico dobrado. No caso do Rodolfo, papel higiênico usado.

Outro problema estranho relacionado às células é chamado de situs inversus. Por causa da deficiência dos cílios das células, os órgãos dos afetados não tomam suas posições corretas na hora da formação. Deve ser interessante, o fígado do lado direito, o apêndice em cima do umbigo, etc. só informação adicional.

Rodolfo larga as coisas, me dá um abraço e diz:

- E aí, Davi? Tudo bem?

As pessoas podem ser até suas piores inimigas, mas quando precisam de um favor, são agradáveis o quanto for possível.

- Ta fazendo o que da vida?

Antes que eu respondesse, coisa que eu nem queria fazer mesmo, ele muda de assunto:

- Cara... – Já sei que ele quer um favor – Tem uma vaga aí? Preciso de um lugar pra dormir.

Ele pode estar amável do jeito que for, mas ele também pode mudar de humor de repente. Como aconteceu quando ele me arrancou cinco dentes do lado esquerdo. Por isso respondo:

- Tem...

- Ah! Ótimo! E tem comida aí? – ele pergunta. Eu ainda estou balançando a cabeça respondendo a primeira pergunta. – Estou com fome.

Capítulo 6

É claro que, depois do “Oi! Quanto tempo!”, você tem que convidar a garota dos seus sonhos pra sair. Mas nunca deixe ela escolher o lugar.

Não sou muito de festas em boates e tal, mas, infelizmente, foi esse o lugar que katerine escolheu para nos encontrarmos.

Fico esperando-a na parte mais calma da festa, onde se encontram os excluídos. As feias que não têm amigas gostosas e os nerds. Rodolfo vai dar uma volta no meio dos empolgados. As pessoas fazem movimentos repetitivos, como se estivessem apitando uma partida de futebol, onde os jogadores são extravagantemente mal educados.

Ela aparece, bem apresentável, com suas características fenotípicas dadas pelos genes recessivos. Deus abençoe os genes recessivos.

Fala com as pessoas como se conhecesse todos da festa. Então chega até mim e me dá um beijo de um lado do meu rosto e do outro e encosta, do outro lado, sua bochecha na minha beijando o vento. Coisas de menina. E diz:

- E aí, Davi? Diz, o que você anda fazendo? – ela quer conversar com todo esse barulho?

Sem querer responder e dizer que estou vadiando em tempo integral e sobrevivendo com o dinheiro que restou da minha mãe que morreu, faço uma pausa, no mínimo, idiota. Aquele negócio de ser desinibido é mais difícil do que na frente do computador. Não consigo ser outra pessoa, muito menos ser eu mesmo. Eu, finalmente, digo:

- Diga você o que está fazendo! – esse você, usado como eu usei, indica que eu estou aplicando nela.

- Eu perguntei primeiro.

Eu aceito responder, mas antes eu acabo fazendo uma pausa, no mínimo, imbecil.

- Ehh... eu... é... eu estou projetando coisas para cultivar planos para o meu futuro.

- Ah, ta!

Eu acho que ela não entendeu. É incrível como as pessoas não admitem quando não sabem algo. Acho que é assim que surgem os dogmas das religiões. Alguém faz uma pergunta a um líder religioso. O cara não sabe responder a pergunta sobre a própria religião, e acaba dizendo que aquela é uma coisa inquestionável. Que aquilo “é assim porque é”. Se você quer religião, esqueça a inteligência. Se você quer ter vida social, como as pessoas querem, esqueça religião e inteligência.

- Quer dizer, merda nenhuma? – ela diz.

Ela entendeu sim. Às vezes superestimamos a burrice das pessoas.

- Eu, ao contrário de certas pessoas, – ela continua apontando pra mim com o lábio inferior – ainda estou na universidade.

Essa foi uma piadinha daquelas que as pessoas fazem quando têm intimidade entre si. Eu sorrio com o lado direito do rosto.

Um cara chega, dá um beijo no rosto dela e deixa com ela um copo de cerveja. Eu não sabia que ela bebia. Não sei se isso se deve à falta de religião ou de inteligência.

Sabe? Os gregos eram provavelmente uns alcoólatras, qual quer coisa era motivo de uma bacanal. Engraçado, eles bebiam em nome dos deuses, mas hoje todos bebem para se satisfazer ou satisfazer aos outros (pense em “beber socialmente”). Uma das comemorações dos gregos era o primeiro porre de uma criança, aos quatorze anos. Hoje em dia as pessoas têm até filhos nessa idade. Então me pergunto: por que nunca fiquei porre antes? Talvez nunca tenha precisado.

Pego o copo e, olhando para ela, dou só uma bicada. Estendo a mão para devolver. Ela diz:

- Fica com esse. Lá vem outro pra mim.

E outro cara dá um beijo no rosto dela e deixa outro copo.

Ela bebe a metade do copo.

- Pois é... – eu digo. E fico mexendo a cabeça pra frente e pra trás como um peru.

Penso que a gente está numa festa, mas talvez ela não queira ficar com ninguém. Mesmo assim vale a pena tentar ficar com ela logo.

Mas preciso criar coragem pra avançar. Acho que beber ajudaria a criar coragem. Esse seria um bom motivo pra beber, eu acho. As pessoas bebem pra criar coragem pra fazer várias coisas. Pra brigar, pra fornicar extraconjugalmente, pra mijar em público e até pra dar, isso mesmo, é nesse sentido que eu estou falando.

Ao menos eu vou beber por um bom motivo. É um motivo egoísta, mas é bom só por que não é ruim. Um amigo meu, não tinha coragem pra aprender a dirigir. Tinha medo de que houvesse um acidente e ele morresse no carro. Ele bebeu pra criar coragem. Esqueceu do cinto. Pelo menos, quando ele bateu o carro, atravessou o pára-brisa e não morreu dentro do carro.

Eu termino de beber o copo, mas acho que não é o suficiente para me dar coragem. Decido comprar outra cerveja. Peço pra ela esperar e vou lá.

Rodolfo fala com Katerine e eles trocam alguma coisa. Ela põe o que recebeu na boca.

Quando volto, Katerine está ficando com outro cara.

Acho que agora ela se tornou um motivo pra beber. Não pra criar coragem, mas para atenuar meu sofrimento de, mais uma vez, estar sozinho. Não sei por que, mas eu lembro da minha mãe agora.

Rodolfo chega até mim, e mostra uma coisa quase sem tirar do bolso. Um frasco em forma de cilindro cheio de pílulas brancas.

- Que é isso aí? – eu pergunto.

Ele me olha com uma cara de quem acha que é mais esperto que alguém e diz:

- Isso é ecstasy, meu filho.

Foi isso que ele deu pra ela.

- Onde é que tu arranjou isso?

- Numa outra festa aí.

Flashback.

Rodolfo estava com um colega numa festa. Esse colega estava vendendo ecstasy. Mas o bocó caiu na desgraça de ficar viciado no produto de sua venda.

Muita gente acha que, por ser consumido apenas em fins de semana, o ecstasy não vicia.

Ele, além de te deixar ligado, aumenta a temperatura do seu corpo, faz com que você não tenha vontade de mijar. Você poderia beber vários litros de água sem mijar uma gota.

Uma pessoa pode ficar intoxicada se beber quinze litros de água sem botar nada pra fora. E, calamitosamente, isso aconteceu com o colega do Rodolfo.

O doido cai desmaiado no chão com a barriga inchada. Rodolfo tenta acordá-lo, mas ele não responde. Rodolfo olha para um lado e depois para o outro, como se tivesse achado uma moeda que alguém deixou cair, e põe a mão no bolso do cara. Depois de ter achado uma coisa roliça, mas não o que procurava, procura mais um pouca e pega o vidro de ecstasy que o doido tava vendendo.

Na festa.

- E por que tu tá me mostrando isso? – pergunto.

- Eu quero saber se tu tá afim de comprar – diz ele dando de ombros.

Quando olho pra Katerine, ela já está ficando com outro cara que não era o primeiro.

Eu tive várias mulheres na minha vida. Tudo bem, nenhuma sabia disso. Mas Katerine, a mulher que ficou depois que minha mãe morreu, com seus adoráveis genes recessivos, está se entregando às vicissitudes da alcoolfilia, da toxicomania, e da promiscuidade.

Eu tomo, como a mamãe dizia, “gute-gute” o segundo copázio de cerveja. Como o meu corpo não é um dos mais avantajados e eu tomo rápido, o efeito do álcool aparece logo.

Depois de Katerine ter ficado com o quarto cara na festa, ela vem até mim de novo. Andando lentamente e cambaleando um pouco. Falando mais arrastado do que coxa de bailarina de lambada.

- Ei! Tu sssumiu! Onde é que tu tava? – ela diz.

- Fui bem ali.

- Eu senti tua falta.

Olha esse papo.

- O quê? – ela pergunta.

Eu falei isso ou só pensei?

Acho que falei.

- Nada.

Ela põe os braços em volta do meu pescoço e me olha. Na verdade não dá pra saber se ela está olhando pra mim ou pra alguém atrás de mim.

Eu ponho as minhas mãos na cintura dela.

Seus olhos vão se fechando, seu rosto se aproximando e sua cabeça se curvando, como fazem as cabeças das atrizes peitudas das novelas na hora do beijo. Eu curvo minha cabeça na posição correta.

Com minhas mãos em sua cintura, sinto seu abdômen contrair. Ela põe a língua um pouco pra fora e um jato de vômito voa no meu rosto.

Eu já não estava passando muito bem. Com vômito na cara não dá pra agüentar. Eu vomito em cima dela.

Rodolfo que não tinha nada a ver com a estória, mas estava assistindo tudo de perto, vomita em cima de nós dois.



Continua...

por hoje...

4 comentários:

Anônimo disse...

Hhuahaahuuhuuaauhh
Porra, só de pensar q vai demorar uma semana pra ler o próximo...
Ah, acho q isso "Os personagens da história a seguir só existem na mente doentia do autor. Qualquer semelhança com a realidade é mera coincidência." foi uma indireta pro q eu disse num comentário!
Cara, essa história tá demais...

Anônimo disse...

excelente...continue assim nick meu filho, isso continua predendo nossa atençao de uma forma até mesmo estranha, mas ta muito firme.
esse final foi embasbacante...
uheueheuheeu
falow

Anônimo disse...

huiaohauhuahoiuahahiuahia...
tah o panico isso....


huiahoiaihaiuhaihiuahiahia...

pow...coloka logo amanhã!!!
\o/

tah duka isso velho! beijos!

Anônimo disse...

quem é essa empolgada?