maio 21, 2006

Marketing Multinível para leigos



Algum de vocês já ouviu (ou caiu) nisso? Fiquem com suas respostas alojadas bem aí no subconsciente. Em primeiro lugar, precisamos definir o que seria esse tal "marketing multinível". Trata-se de uma estratégia comercial que surgiu no final dos anos 70 nos Estados Unidos com a filosofia básica de vender produtos de grandes empresas através de distribuidores (pessoas anatomicamente humanas), numa base hierárquica, para o mercado consumidor (como eu e você). Mas esse mesmo você que lê este texto (muito puto) deve estar se perguntando: "Ora merda, mas essa estratégia não é a mesma do mercado tradicional?". PÉÉÉN!. A resposta é "não"; é é aí que começa a merda.

A diferença do marketing multinível para o mercado tradicional é que a empresa recruta distribuidores do seu produto e estas podem convidar seus amigos para também serem distribuidores (como numa espécie de Orkut com fins lucrativos), porém subordinados à primeira. Se você, como participante dessa condição, conseguir convidar pessoas para serem seus "discípulos", você ganha uma porcentagem do lucro destas pessoas, além de que, se conseguir convidar muitas pessoas ou ser um grande vendedor, a empresa pode até conceder viagens de turismo e grana, muita grana (sim, o suficiente para comprar BMWs). Mas esses barões multinível são geralmente os pioneiros, que lucram de forma exponencial os rendimentos percentuais gerados por todo o resto da pirâmide; como uma progressão geométrica dos lucros. A onda é que em muitos países isso é ilegal.

O papo das empresas é sempre o mesmo: independência financeira, trabalho em casa ou oportunidade de negócio próprio. Confesso que já fui convidado para participar e nunca me senti uma pessoa ilustre por esse motivo. Os que me convidaram são somente conhecidos meus e pensaram que eu seria mais um espertalhão querendo vender e criar filhos (netos, bisnetos e assim por diante) em esquema piramidal e alienante.

Minha raiva não se refere ao processo de vendas propriamente dito, e sim à mediocridade dos vendedores. Essas pessoas, quando foram me convidar para o esquema, chegaram pra falar comigo de uma forma totalmente diferente da que me tratavam antes de serem parasitas. Mas nem por isso eu quis ser amigo deles. Acho que também não preciso ser inimigo.

Para os vendedores, tudo parece um mundo maravilhoso, mas esta situação gera os famosos amigos parasitas de nossa classe média que, ilusoriamente (e desesperadamente) se enfiam nesta modalidade de venda sonhando com as malditas cifras enquanto tentam diuturnamente nos convencer para que compremos o produto (mesmo quando sabem que não temos condições de adquiri-los); já que quanto mais eles vendem, mais ganham comissões e ainda cresce seu prestígio dentro da mini-sociedade hierárquica dos vendedores multinível (sim, eles têm reuniões e eventos). São um bando de babacas que sonham em ficar ricos às custas dos outros (os otários). Se você não tem um amigo que venda produtos em estratégia multinível, considere-se uma pessoa feliz.

Mas não confundam os produtos "Natura" e "Avon" (que nossas progenitoras adquirem quando recebem seus salários) com aqueles envolvidos no marketing multinível. A diferença é que os distribuidores desses produtos (geralmente pessoas do sexo feminino) estão diretamente vinculadas à empresa, recebendo comissões e não possuindo uma escala hierárquica. Ou seja, nenhuma vendedora de Avon é melhor do que a outra. A não ser que ela seja parecida com minha namorada (lembrando que minha mulher não vende nada disso).

Uma das justificativas desse processo é: "As pessoas compram produtos de quem elas mais confiam, seus amigos". Isso é ilusão; em primeiro lugar, porque não é o amigo quem fabrica o produto e, em segundo, porque é burrice mesmo e não se fala mais nisso. Só as pessoas mais ingênuas fazem isso. Até porque um amigo vendedor geralmente não é teu amigo de verdade.

O que mais me chama a atenção é que uma estratégia de quase 30 anos tem tido sucesso no Brasil (talvez por ser um país onde até a classe média é burra). Por exemplo, o "suco de NONI" (garrafa de 1 litro), campeão de vendas do marketing multinível internacional, custa R$150. Lembremos que 1 litro de gasolina no Brasil (mesmo com a independência de petróleo) custa, em média, R$2,65, e todo mundo reclama. A diferença é que o suco de NONI tem vitaminas, minerais e há evidências de que ele previna o câncer (tipo o açaí, do grosso). Outra diferença é que foi publicado um artigo científico alegando que o NONI provocou toxicidade hepática em dois consumidores, sendo que um deles precisou de transplante de fígado. Incrível mesmo...

3 comentários:

Anônimo disse...

rapaz... bom informativo
eu nem sabia q existia pratica tao deturpada nesse mundo maldito.

excelente

Anônimo disse...

Whoa!
já fui convidado pra um negócio desses, mas não sabia que era assim.

esplêndido!

Anônimo disse...

Olá, eu sou o Danillo (como vocês já devem perceber) e, pra quem não sabe (principalmente a população que não freqüenta esse blog), fui eu o autor do texto. A única coisa que peço então são CRÍTICAS. Obrigado e excelente